"Sou parte de tudo o que
conheci" Ulisses de Tennynson
Augusto
Cury no seu livro Mulheres inteligentes, relações saudáveis, diz que você pode
conviver com milhões de máquinas, com animais e não sofrer nenhuma frustração,
mas se conviver com um único ser humano, por mais que o ame, haverá decepções
imprevisíveis e frustrações inesperadas.
Mesmo
se nos isolarmos das pessoas e nos trancarmos no nosso mundo, os problemas
externos irão ser substituídos por problemas que a nossa mente, incrivelmente
elaborada, construirá.
Problemas
todos têm, o que diferencia são a forma, o peso e o valor que nos damos para
eles. Embora, sejamos constituídos da mesma forma, corpo, mente e alma, nos
desenvolvemos de formas diferentes. O que nos diferencia são as nossas escolhas.
Podemos colocar um problema agora e cada um de nós resolverá de forma
diferente. As escolhas podem determinar por que seu vizinho teve sucesso na
vida e você não, ou por que você conseguiu superar aquele desafio e o seu
colega não.
Por
mais que, num contexto geral, todos nós passamos pelas mesmas questões e temos
problemas muito semelhantes, como por exemplo, de relacionamento afetivo – “como
eu faço para que ele me entenda”, “por que estou sozinho?”, ou “por que não me
sinto feliz?”, entre outras inúmeras questões, o que nos torna complexos são os
conteúdos que trazemos lá de trás, da nossa relação familiar, dos nossos
registros da infância, das pessoas que fizeram parte do nosso desenvolvimento e
que são nossas referências.
O
que registramos e o que isso tem a ver com que eu quero ser? Vou agir da mesma
forma que meu pai porque ele teve sucesso? Continuarei entregue a depressão
porque foi assim que eu vi minha mãe conseguir as coisas?
O
processo natural é que nos identifiquemos, num primeiro momento, com o que
vimos, mas com o passar do tempo essa identificação vai se tornando parcial e
seletiva, pois precisamos nos construir. Para que isso aconteça, serão
necessárias algumas perdas, será necessário deixar para trás algumas crenças. Assim
sendo, não nos tornamos clones, mas sim quem queremos ser, de fato.
Somos
parte de tudo que conhecemos, daqueles que nos criaram, mas como disse Judith
Viorst, essas partes foram transformadas. Cada um de nós é o artista do próprio
Eu, criando uma colagem – uma obra de arte nova e original – com fragmentos e
recortes de identificações. Ela diz ainda que, sem dúvida, nós todos, durante o
nosso desenvolvimento normal, tivemos experiências de um falso Eu, de separação
em duas partes, de narcisismo. Nós todos tivemos experiências de desligamento
do nosso Eu. Nós todos tivemos experiências do tipo: “Por que eu disse aquilo?”,
de abrigar “eus” distintamente contrários, de tentar esconder nossos “eus”
inaceitáveis, de agir como pessoas diferentes com pessoas diferentes.
Um
crescimento e relações saudáveis implicam a capacidade de renunciar à nossa
necessidade de aprovação, quando o preço dessa aprovação é o nosso próprio e
verdadeiro Eu.
A
busca por essa duas letrinhas – EU – nem sempre é agradável, tranqüila e
simples. Busca ou fuga do Eu pode nos trazer decepções, frustrações,
incertezas, assim como podemos provocar esses sentimentos nos outros. Mesmo porque,
dentro dessas duas letras estão contidos nossos desejos e limites, nosso corpo
e mente, nossos sonhos e objetivos, nossos sentimentos e capacidades. Para
sermos quem queremos ser é imprescindível a relação com o outro. E esse outro,
assim como nos, virá com toda essa complexidade, com todos os conteúdos, com
todos os registros. Sabemos que é um desafio e tanto lidar com as pessoas, mas
a partir do momento que sabemos quem somos, que praticamos o exercício do
autoconhecimento, fica mais fácil conhecer e nos relacionar com o outro, e
assim construir relações transparentes e baseada em fatos reais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário