"A beleza não está somente nas
flores do jardim, mas, antes de tudo, nos olhos de quem os admira."
(Hammed)
Como disse Jean Paul
Sartre, somos seres livres, porém condenados à liberdade. A filosofia de Sartre
diz que somos responsáveis por tudo que acontece na nossa vida, seja bom ou
ruim, inclusive pelo o que podemos ou não fazer com o que acontece no nosso “Universo
Particular”. Ou seja, temos em nossas mãos a escolha de alimentar ou não uma
emoção; e podemos fazer isso por meio do pensamento, de atitudes. Disciplinar o
pensamento é uma tarefa nada fácil, exige treino, muito treino.
Lutamos tanto pela
liberdade, queremos tanto ser livres e achamos que isso tudo está,
exclusivamente, vinculado ao mundo externo, ou seja, a tudo que está fora de
nós. Doce e cômoda ilusão.
Só nos sentiremos livres
de fato, quando conseguirmos entender, compreender e conhecer nosso “Universo
Particular”, quando sairmos de dentro da caverna e, assim nos libertarmos do
nosso lado mais primitivo e parar de viver apenas com aquele lado do cérebro
que nos acompanha a mais ou menos 250 milhões de anos - o Arqueocortex. Em grandes
linhas o arqueocortex dirige o nosso ser antigo, aquele que se mantém ainda nos
moldes do Ser irracional, aquele que se move e age por instintos. Quando usamos
o cérebro antigo nos colocamos mais próximos dos animais, não pensamos. Nele está
os sentimentos como o ódio, o rancor, os medos, a mágoa, a raiva.
Em pleno século XXI
continuamos presos ao nosso animal selvagem, instintivo, irracional. Um exemplo
disso é quando ficamos presos aos medos. O medo é uma emoção importante sim
para nossa proteção, no entanto os medos que criamos nos mantêm estagnados e
prisioneiros. Como disse Joseph O’Connor, no seu livro Liberte-se dos medos,
todos nós desejamos a libertação emocional – viver a vida livre dos medos
indesejáveis. O medo primário, necessário para a nossa proteção sempre estará
lá, porém vivemos uma vida dentro do medo: medo do risco, medo do fracasso,
medo da autoridade, medo da perda, medo de nos relacionarmos, medo de nos
olharmos, e com isso vivemos limitados e infelizes.
No seu livro As dores da
Alma, Francisco do Espírito Santo Neto diz que por medo de sermos visto como
somos ficamos limitados a um nível superficial. Presumimos que o “não ver”
resulta em “não ter”. Em verdade, não nos livramos da nossa “sombra”
simplesmente porque fechamos os olhos para ela, mesmo assim ela continuará a
existir. A “Sombra” é um conceito junguiano
para designar a soma dos lados rejeitados da realidade que não queremos admitir
ou ver em nós mesmos, permanecendo, portanto, esquecidos nas profundezas da
intimidade. Tudo que ignoramos geram mais medo do que as conhecidas.
Ele ainda diz que as
manifestações decorrentes de nossa “sombra” são projetadas por nós mesmos de
forma anônima no mundo, sob o pretexto de que somos vítimas, porque temos medo
de descobrir em nós a verdadeira fonte dos males que nos alcançam no nosso
dia-a-dia. Por acreditar que banimos de nossa intimidade determinado princípio
que nos gerava medo e baixa estima, é que fatalmente encontraremos, logo em
seguida, esse mesmo princípio materializando-se no mundo exterior, amedrontando-nos
e causando-nos desconforto. Por exemplo, os chamados tiques nervosos nada mais
são do que impulsos compulsivos de atos ou a contração repetitiva de certos
músculos, desenvolvida de forma inconsciente, para não tomarmos consciência dos
conteúdos emocionais que reprimimos em nossa “sombra”. Criamos esses tiques
para aliviar emoções e para conter sentimentos emergentes. A técnica funciona assim:
enquanto nos distraímos com o tique, não deixamos vir à consciência o que
reprimimos, por considerá-lo “feio ou pecaminoso”. O resultado do medo em
nossas vidas será a perda do nosso poder de pensar e agir com espontaneidade.
Se focarmos nosso olhar
para o que existe de ruim no mundo estaremos enfatizando, para nós mesmos, o
que queremos que a vida nos mostre e nos forneça. É a nossa mente que comanda. E
somos nós que alimentamos nossa alma com que o que vivemos, pensamos e
sentimos. Quanto mais pensarmos e voltarmos nossa atenção para os desastres,
calamidades, erros que acontecem e que também cometemos, mais teremos a
percepção de que o mundo está limitado à nossa particular maneira pessimista de
ver e sentir.
Presos a desconfiança, ao
receio, criamos resistências, obstáculos e tropeços que nos impedem de avançar.
Passamos, então, a não viver, a não pensar, a não refletir, não questionar.
Como disse Francisco do
Espírito Santo Neto, não seríamos afetados por nenhum acontecimento de maneira
desgastante, se estivéssemos centrados em nós mesmos. Devemos aprender a
focalizar e desfocalizar nossas crises, traumas, medos, perdas e dificuldades,
bem como os acontecimentos desastrosos do cotidiano, dando-lhes a devida
importância e regulando o tempo necessário, a fim de analisá-los
proveitosamente. Assim, teremos metas sempre adequadas e seguras que
favorecerão nosso desenvolvimento espiritual. Somente quando nos conhecermos e
nos libertarmos dos medos que alimentamos, criamos e guardamos dentro de nós
que conheceremos nossa alma e voaremos leve, livres e felizes.
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