O
trabalho de autoconhecimento reflete no olhar para nós mesmos e para o mundo.
Ana Paula Matos
Existe um longo caminho
até a mudança, mesmo porque a compreensão racional não é como a compreensão emocional.
Não é fácil mudar um comportamento, mesmo porque este comportamento vem
carregado de sentimentos e emoções, está cheio de passado. Embora todos os
dias, a todo o momento temos a oportunidade de escolher como será nosso agora,
não é fácil mudar um comportamento. Mesmo esse comportamento nos gerando
sentimentos indesejados.
Theo Roos, no seu livro Vitaminas Filosóficas diz que Nietzsche
sempre foi de encontro aos comportamentos difíceis de ser alterados. Já é
complicado reconhecer nossos comportamentos, imagine mudá-los! É uma ginástica,
uma tensão, uma permanente intranquilidade. Esses comportamentos por estarem
tão entranhados em nós, são difíceis de mudar, porém não são impossíveis. “O
familiar”, escreve Nietzsche em A Gaia Ciência, “é o habitual; e o habitual é o
mais difícil de conhecer, isto é, de ver como problema, como alheio, como
distante, como exterior a nós”. E é pelo olhar do outro que eu me reconheço, é
pelo outro que eu me vejo. Não estamos sozinhos e não conseguiremos sozinhos. Fazemos
parte de um todo, somos o todo.
Segundo Deepak Chopra, no
seu livro O Efeito Sombra, pode
parecer estranho, mas os sentimentos têm sentimentos. Sendo parte de nós, eles
sabem quando são indesejados. O medo coopera ao se esconder; a raiva coopera
fingindo não existir e por aí vai. E como podemos fazer para lidar com
sentimentos que permanecem e refletem no nosso comportamento ainda hoje, como
resquícios de uma perda, de um acidente, de uma ruptura, de uma rejeição
amorosa, de um fracasso escolar?
A agitação, a correria do
nosso dia-a-dia, o crescimento desenfreado da nossa sociedade nos afetam
diretamente. É difícil dar conta desse ritmo. E isso nos distancia mais ainda
de nós mesmos. É até irônico pensar que a pessoa com quem convivemos todo
tempo, com quem acordamos e dormimos juntos, muitas vezes é nosso maior
desconhecido. Queremos ser bem sucedidos no mercado de trabalho, queremos ser donos
do nosso nariz, conquistar uma posição de destaque social, fazer e acontecer no
mundo, mas mal conseguimos reconhecer nossos sentimentos, mal sabemos quem
somos, por que reagimos de tal forma, por que permitimos que determinadas situações
se repitam.
Investimos
nosso tempo e dinheiro para buscar atualização sobre o mercado, sobre novas e
melhores práticas de negócios, em melhorar nossas competências profissionais e
não, investimos nem 1% de tempo e dinheiro para nos conhecermos, para saber
quem é esta pessoa que está comigo 24 horas do dia.
Receber formação e
treinamento é algo perfeitamente normal em outros campos, mas na administração
e conhecimento do próprio Eu é proibido, é vergonhoso, afinal, ainda hoje não é
difícil ouvir que terapia é coisa para louco, para quem tem problema, para quem
não consegue se ajudar. O mundo mudou, pessoal!!! Olhar para si mesmo é para
poucos. Somente os corajosos encaram esse encontro consigo e com o mundo. Precisamos
nos conhecer, conhecer o outro, reconhecer nossos pontos fracos, potencializar
nossos pontos fortes e para isso precisamos do olhar do outro - para sermos
melhores, para nos desenvolvermos, para evoluirmos.
As escolas, assim como as empresas
não se preocupam em formas pessoas que pensem, mas em formar pessoas que façam
o que tem que ser feito sem questionar, sem muitas análises. Somos treinados
para reproduzir, para replicar o que nos foi passado. Se pararmos para pensar o
mundo a nossa volta faz questão de tampar nossos olhos para nós mesmos.
Podemos buscar o olhar do
outro, em um amigo, nos nossos pais, nosso parceiro ou num profissional. O terapeuta também cumpre esse papel do outro, com suas técnicas, seus métodos e sua sensibilidade.
Ele nos auxilia a enxergar nossos sentimentos e comportamentos, a articularmos
nossa demanda, a constituirmos, a descobrirmos na nossa fala em relação à nossa
história e extrair, a partir de certa sequência, uma mensagem em que poderá ser
veiculado um sentido. Por meio da terapia, podemos encontrar “os por quês” para
determinados comportamentos, sentimentos e emoções e, se for o caso mudar ou
amenizá-los; aliviar as nossas dores e, contudo nos tornar pessoas melhores e orientadas
para o nosso projeto de ser no mundo. Como disse Theo Roos, escavar a si mesmo
é um processo demorado e nada simples, mas que nos trás o perdão e alívio para
nossas culpas.
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