quarta-feira, 21 de janeiro de 2015

O excesso de falta




Todo excesso nunca será pouco para causar prejuízos.
Ana Matos

Não quero falar sobre a questão das drogas como sendo uma apologia contra o uso. Mesmo porque, temos informações o suficiente para sabermos dos malefícios de cada uma delas. O ponto é que, muitas vezes o uso, seja do que for, vai ser bom ou ruim conforme a dose que se toma. Se fizermos um uso excessivo de palavras rudes, elas farão mal a quem ouve; se tomarmos um remédio na dose inferior ao recomendado pelo médico, não terá efeito algum e sua doença não será atingida; e por aí vai. Enfim, todo excesso nunca será pouco para causar prejuízos.
A reflexão que tenho sobre o assunto e o que quero compartilhar é que as drogas são o gatilho para a covardia de consumar atos de crueldade e desrespeito. O que mata não é a arma que o cara segura e aponta, mas o poder que a droga dá. Segundo uma matéria que saiu no site “O Globo”, em 27 de maio de 2014, por Demetrio Weber e Odilon Rios, sobre o Mapa da Violência que foi lançado em 2014, com dados levantados até 2012, diz que a taxa de homicídios é a maior desde 1980. Esse levantamento foi baseado no Sistema de Informações de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, que tem como fonte os atestados de óbito emitidos em todo o país. O que me chamou a atenção é que 70% dos homicídios têm as drogas como pano de fundo.
Só que antes mesmo de chegarmos nas drogas, existe um caminho anterior onde nos deparamos com um mundo cada vez mais caótico, embora evoluído tecnologicamente. Todos os dias nos noticiários, nas redes sociais, nas conversas aleatórias nos deparamos com tragédias, mortes de inocentes, comportamentos agressivos, tudo isso reflexo de uma luta desenfreada para preencher um vazio da ausência de amor e de limites.
É nítida a falta de estrutura familiar, a perda dos valores básicos do ser humano - como o amor, o respeito, a não-violência. Estamos sem base! Estamos sem chão! Estamos perdidos! Sim! Vivemos numa sociedade perdida, com escolhas vazias e sem sentido, reflexo do que somos.
Mas, estamos perdidos por que não temos aonde buscar? Não, estamos perdidos porque nos acomodamos com as coisas fáceis, rápidas, ilusórias e porque não queremos “perder tempo” pensando. E a sociedade de hoje toma suas decisões da seguinte forma: “Se você não me quiser tem outro que quer”, “se você não fizer esse serviço para ontem tem outro que faz”, e “se você não fizer na hora que eu quero eu não te quero mais”, “se meu filho está chorando eu empurro o celular ou o ipad e pronto”, “se você quiser falar sobre nosso relacionamento é melhor terminar”. Tudo é descartável por excesso de falta.
Excesso esse da falta do pensar, da reflexão, que também vem da falta de estrutura familiar, educacional e governamental e que reflete nas escolhas que fizemos – como, por exemplo, a escolha de caminhos ilusórios.
Não somos uma sociedade com capacidade de escolha, com discernimento e conteúdo para tanto.  Não somos e nem herdamos o DNA dos “caras pintadas”. E tudo que nos exigir um movimento maior, não faremos.
Enquanto isso, vamos vivendo num mundo onde permitimos que as drogas alimentem nossas ilusões de poder, onde permitimos que os governantes continuem roubando na nossa cara, onde os assassinos continuem soltos, e os herdeiros dessa raça continuem fazendo “bom proveito” da nossa inércia mental, física e moral. E por excesso de ilusões seremos vítimas de nós mesmos.