segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Relação a dois: a arte de equilibrar amor e ódio



“Nossas expectativas não atendidas pelo outro são perdas necessárias para o amadurecimento como ser humano.” Ana Paula Matos

Às vezes você perdoa as pessoas simplesmente porque você ainda as quer na sua vida. Outras pessoas perdoam, mas não querem a pessoa como parte da sua vida. Muitas vezes é difícil entender como cada um segue a sua vida como se o outro não existisse e nunca tivesse existido. Salvo os casos em que o término foi traumático, onde houve agressões verbais ou físicas, mágoas, etc. Afinal, convivemos com aquela pessoa durante meses, anos, compartilhamos dores, alegrias, vitórias, derrotas, estivemos juntos na saúde e na doença e quando se termina e como se fossem dois estranhos.
O que acontece é que cada parte sai da relação com sua percepção, sua verdade e frustrações, pois criamos expectativas quando nos relacionamos. No seu livro Perdas Necessárias, Judith Viorst diz que Freud, tratando o amor, distingue o amor sensual, que procura a gratificação física, e o amor caracterizado pela ternura. Freud descreve também a superestimação – ou idealização – da pessoa amada. Além disso, Freud nos lembra que nem mesmo o relacionamento amoroso mais profundo pode evitar a ambivalência, e nem o relacionamento mais feliz pode evitar uma certa porção de sentimentos hostis. Depois de um certo tempo de convivência sabemos muito bem como e em que “calos pisar” para ofender o outro. Sabemos também como acalmar, alisar e fazer coisas agradáveis.
A tensão e os conflitos de um relacionamento podem começar com a morte das expectativas românticas. Levamos para nossos relacionamentos uma infinidade de expectativas românticas e visões de míticos êxtases sexuais. Ainda impomos à nossa vida sexual muitas outras expectativas, muitos outros “devia ser assim”, que o ato cotidiano do amor não consegue realizar. Agora, cabe uma reflexão: essas são expectativas que nós temos, então, por que determinamos que o outro deva suprir?
Judith Viorst coloca que nossas primeiras lições de amor e a história do desenvolvimento moldam as expectativas que temos num relacionamento. Geralmente estamos conscientes de esperanças não realizadas. Mas levamos também os desejos inconscientes e os sentimentos mal-resolvidos da infância, e, orientados pelo nosso passado, fazemos exigências no nosso relacionamento sem perceber que estamos fazendo. É por meio do relacionamento que procuramos recuperar os amores dos nossos primeiros desejos, encontrar no presente figuras amadas do passado – figuras paternas ou outras referências importantes na nossa formação. Nos braços do outro procuramos unir os anseios e objetivos do desejo do passado. E, muitas vezes, odiamos o outro por não satisfazer esses desejos antigos e impossíveis. Odiamos porque ele não preencheu nosso vazio, porque ele não entendeu o que eu queria sem precisar dizer, odiamos porque ele não correspondeu aos nossos pedidos de socorro, ao nosso lamento, porque ele não foi uma mãe ou um pai.
Nossos desejos incompatíveis, nossos conflitos, nossos desapontamentos confirmam a existência do ódio na relação. Esse ódio pode ser consciente ou inconsciente. Ele pode ser contínuo tornando-se um martelar de raiva, amargura e dor ou passageiro tornando a relação sólida. O ódio nem sempre precisa ser uma explosão, mas pode ser uma lamúria em silêncio. Como a relação é feita de momentos de amor e ódio é no caminhar e na maneira como lidamos com nossas expectativas e as expectativas do outro que vamos construindo algo ou seguindo em direção ao abismo, ao fim e ao distanciamento para sempre, como se fossem dois estranhos.
No entanto, se no decorrer da relação vamos caminhando para um amadurecimento, enxergando o outro com suas qualidade e defeitos, de uma forma real, trazemos para o relacionamento a capacidade de sentir empatia e carinho, de sentir culpa quando provocamos dor, de sentir vontade de reparar o dano causado e oferecer consolo, acolher. Enquanto o outro simbolizar certos ideais com valores para nós, continuamos a vê-lo como uma pessoa ideal, mas essa idealização convive com o conhecimento real de quem amamos. A tendência é que esse conhecimento nos coloque frente a frente com nossos desapontamentos, nossos sentimentos de amargura, nosso ódio. Mas também abrirá espaço para a gratidão. Segundo Judith Viorst é a gratidão por encontrar no relacionamento amoroso daquele momento um pouco das pessoas amadas do nosso passado, por receber o que jamais tivemos no passado e mais, a gratidão pela sensação de ser (re)conhecido, compreendido pela pessoa amada. E então, estaremos livres da cegueira de nossas expectativas idealizadas, projetadas.
Com o tempo tomamos consciência de que não podemos esperar do outro a “missão impossível” de suprir nossas carências, nosso vazio, do jeito, da forma que queremos, idealizamos. Essas expectativas perdidas são perdas necessárias para o amadurecimento do ser humano. E com o equilíbrio do amor e ódio podemos preservar a conexão do relacionamento “um e outro”, pois a ambivalência sempre existirá – somos dualidade, somos o todo. E assim, podemos sair de um relacionamento com lembranças de bons momentos, com a certeza de que hoje somos melhores do que ontem e com a sensação de ter vivido, crescido com uma pessoa que hoje não é mais nosso amor sensual, mas um amigo que fez e fará parte da nossa vida.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A sombra nossa de cada dia



“Os tempos mudaram, mas nossos olhos e a maneira como nosso cérebro processa informações não mudam” Lung e Prowant

Embora tenham se passado mais de dois milênios, os desejos, os objetivos e a ingenuidade dos homens mudaram muito pouco. Nicolau Maquiavel escreveu “Os homens têm e sempre tiveram as mesmas paixões” e acrescento: as mesmas necessidades, os mesmos medos. Por mais que temos evoluído, não crescemos nada emocionalmente. Continuamos os mesmos, repetindo, muitas vezes, os mesmos comportamentos.
Agora você já parou para pensar que nossa vida, e a de todos, seria bem melhor se as pessoas assumissem quem são – sua dualidade, sua luz e sombra, o bom e o ruim, o bem e o mal. A questão é que projetamos no outro nossos desejos obscuros, nossa sombra – o que não admitimos em nós mesmos. Devemos ter a consciência de que ter um lado sombrio não é possuir uma falha, mas ser completo. A sombra nos pertence e podemos conviver muito bem com ela. É a existência da sombra que nos faz querer ser melhores, evoluir emocionalmente. Afinal, nada pode acabar com a sombra, pois não podemos nos separar da dualidade. Precisamos reprimir nossos instintos selvagens, porém, apesar de nossos esforços, haverá muitas derrotas. O caminho ideal para conviver bem com a sombra é ter consciência de que ela existe, afinal não é a resposta, os caminhos, que nos faltam – é sua aplicação. Segundo Deepak Chopra, há incontáveis caminhos para a cura da alma. Mas ninguém tem tempo, energia nem coragem para experimentar todos eles.
Com isso, o caminho que escolhemos é projetar nos outros nossa sombra. Muitas vezes nem nos damos conta de que temos o mesmo comportamento, a mesma forma de lidar com a situação. Não reconhecemos, não temos consciência desta nossa faceta. Por isso, o processo de autoconhecimento deveria ser uma prática constante de todo ser humano. Deveria ser algo estimulado dentro de casa, nas escolas, nas empresas, nas universidades, etc.
Entrar em contato conosco, termos a coragem de nos encarar no espelho de forma a enxergar nossos mais diversos ângulos é para poucos. Mas, hoje em dia, no mundo que construímos e continuamos construindo, se não soubermos lidar com as nossas emoções, com as nossas fragilidades, reconhecermos nossos pontos fortes e a nossa sombra, não sobreviveremos por muito tempo. Se sobrevivermos será por meio de medicamentos, drogas e outros meios de fuga de si mesmo. Reavaliar nossa vida, fazer um balanço de tudo que fizemos, tem que ser uma prática constante e não apenas na virada de cada ano.
Nos preocupamos em dominar as pessoas, conquistar as coisas e, nesta batalha externa, nos perdemos. Nos perdemos na nossa sombra. Quem sabe um dia nos daremos conta que a maior conquista de um homem é o conhecimento de si mesmo. O que lá nos primórdios foi dito por Sócrates – “Conheça-te a ti mesmo”. O maior domínio que podemos ter é das nossas emoções. Conhecê-las para usar a nosso favor e bem de todos.
O homem evoluiu. A pressão que vivemos hoje não vai diminuir. A competitividade só tende a aumentar. O caos, o estresse já está instaurado. No entanto, o contato consigo mesmo é imprescindível para a conquista da paz tão desejada, mesmo dentro do caos. Como disse Chopra, a alma humana é um lugar de ambiguidade, contradição e paradoxo. E é assim que deve ser, porque toda experiência da vida, que é manifestação da alma, é resultado de contraste. E não esqueça que o seu mundo é reflexo da sua alma, das suas escolhas.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

No amor, o risco sempre vale mais que a dúvida


"A gente ri, a gente chora
 E joga fora o que passou
 A gente ri, a gente chora
 E comemora o novo amor."
(Edu Krieger)

             É natural depois de ter vivido uma experiência negativa que tenhamos medo, receio de nos entregarmos. Porém, aos poucos vamos substituindo expressões fatais como “não resistirei a esse sofrimento”, “não quero saber de mais ninguém”, por outras mais mansas, como “sei que essa dor vai passar”, “quem sabe exista alguém interessante”.
            As pessoas que entraram e fizeram parte da nossa vida só permanecem porque nós permitimos. A sensação que temos no término quando ele é traumático é de que “não valeu a pena”, “que era a pessoa errada”, “que perdemos nosso tempo” e “como conseguimos ficar tanto tempo juntos”.
            Esses sentimentos vêm carregados de dor, de sofrimento e, principalmente, de falta de chão. Afinal, era alguém que construiu conosco uma rotina. E não significa que não teve importância. Se agora é difícil perceber o sentido que esta pessoa teve, podemos ter certeza que no momento oportuno teremos o “insight”. Nossas escolhas podem não fazer sentido quando o mundo está desabando, mas tudo está conectado.
            E, geralmente, quando menos esperamos aparece alguém que mexe com a gente. Que aos poucos vai nos conquistando. E então aqueles medos vêm com tudo - as dúvidas, a sensação de que podemos sofrer mais uma vez. No entanto, se queremos ser felizes corremos o risco de sofrer. Mais vale o risco de sofrer do que a sensação de que poderíamos ter sido felizes, de que poderia ter dado certo. Mas e se não der? Se não der, simplesmente fizemos uma escolha: escolhemos viver.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Você tem medo de quê?


“O Universo ao seu redor é uma indicação do seu foco” Lin, What Your Face Reveals

            Desde o dia em que nascemos, estamos “aprisionados ao medo”. Como acontece com toda herança, os medos são ao mesmo tempo uma coisa boa, útil para nossa sobrevivência, e um peso, afetando nossa qualidade de vida. Com o passar do tempo, de acordo com a nossa educação e ambiente em que vivemos, os traumas, nossos medos, podem se tornar excessivos, sob controle ou desaparecer. Cada medo tem sua história relativamente conhecida ou que permanece, muitas vezes, misteriosa.
            Uma questão que devemos pensar em relação ao medo é “Por que meu medo persiste, apesar de todos os meus esforços, já que eu sei perfeitamente que é um medo exagerado?”.
            Depois de refletir sobre a causa, de onde vem este medo, é importante entender o por que deste comportamento diante determinadas situações. Independente da resposta, sabemos ou devemos ter a consciência de que nossos medos permanecem porque nós os obedecemos. Obedecemo-lhes em nossos comportamentos, com fugas e evitamentos. Obedecemo-lhes em nossos pensamentos, não vendo outra coisa ao nosso redor além de perigos e ameaças. O medo submete, dessa forma, nossa inteligência.
            No livro Psicologia do Medo, Christophe André fala sobre os dez mandamentos da luta antimedo: 1) desobedeça seus medos; 2) informe-se sobre o que realmente lhe causa medo; 3) deixe de ter medo do medo; 4) modifique sua visão de mundo; 5) confronte o medo seguindo certas regras; 6) respeite-se e faça com que os outros respeitem seu medo; 7) reflita sobre seu medo, sua história e sua função; 8) cuide de você; 9) aprenda a relaxar e meditar; 10) mantenha seus esforços por muito tempo.
          Todos eles são fundamentais como exercício constante, porém se o medo for algo antigo, instalado e muito sério é importante o acompanhamento terapêutico. O medo deve estar dentro de um limite normal e aceitável. O objetivo não é se tornar uma pessoa sem medo, mas uma pessoa que não se deixa dirigir e nem sufocar por seus medos.
            Felizmente sabemos que somos capazes de colocar o medo novamente em seu lugar. É somente quando nos confrontamos com o medo que podemos dar provas de coragem. Esta coragem nos permite viver os momentos de uma forma plena e seguir em frente. Um medo específico pode sempre nos acompanhar, mas saberemos como lidar com ele e, então, não deixaremos que ele determine a direção do nosso caminho. Podemos fazer as pazes com ele, viver inteligentemente, escutá-lo inclusive, por que não? Pois já não é preciso obedecê-los... Afinal, lutar contra seus medos é lutar, na verdade, por sua liberdade.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Você é dono do seu destino, mesmo que ainda não saiba disso



“Nenhuma dor é tão mortal quanto a da luta para sermos nós mesmos” 
Ievguêni Vinokurov

             Tememos a liberdade. Lutamos e fugimos dela. Ser o dono do seu destino, carregar o peso das suas escolhas, “dar a cara para bater”, ser julgado, não ser o filho perfeito, traz à tona aquele sentimento temido por todos: o do desamparo.
            A questão é que pensamos que teremos mais ganhos se mantivermos o status quo do que se partir para o que de fato queremos.  Sabemos que podemos e desejamos mudar. Não gostamos do modo que as coisas são, mas a perspectiva de causar transtorno na nossa estabilidade e no que nos é familiar é assustadora. Se obtemos “ganhos secundários” com nosso sofrimento, não podemos arriscar ficar sem nada.
            Muitos utilizam da enfermidade, de um mal físico ou emocional, para perpetuar relacionamentos, mesmo à custa da liberdade e da autonomia. O que acontece é que dentro de nós existe a necessidade de segurança, proteção, amparo, estabilidade que vamos buscar no outro.
            Os relacionamentos, na sua grande maioria, são constituídos da expectativa inconsciente de que a outra pessoa poderá suprir nossas necessidades não atendidas, nossas carências.  Como eu disse são expectativas inconscientes. Não nos damos conta do que queremos de fato. Só sentimos a necessidade de suprir uma falta que não é, e nem nunca será, de responsabilidade do outro.
            Se essas expectativas são conscientes, se conseguimos verbalizar e sinalizar, a tendência é que o relacionamento se desenvolva e prospere, pois temos clareza do que queremos e de como esperamos atingir o que queremos. Não existe uma ilusão e nem uma sobrecarga de responsabilidades em cima do outro. Trazer para consciência essas necessidades, essas expectativas, significa correr o risco da frustração. Significa estar consciente de quem você é, do que você quer.
            No entanto, para esse encontro consigo mesmo, para seguir nesse processo de autoconhecimento, de querer ser melhor, de querer ser mais você, é necessário, não somente o reconhecimento, a conscientização das necessidades, mas também a consternação. Segundo Stanley Rosner e Patrícia Hemes no seu livro O Ciclo da Auto-sabotagem, a consternação significa admitir o próprio comportamento, admitir o que poderia ter sido, mas nunca foi. Significa vivenciar a mágoa e a dor da decepção, da desconsideração, o medo da perda e enxergar o crescimento como libertação da dor, encarando isso, não como um fracasso, mas como um movimento em direção ao futuro. Significa deixar para trás a bagagem do passado, mas não ignorá-lo. Entendê-lo como experiência, aprendizado e impulso para o futuro.
            Compreender o que estamos fazendo, ter consciência do que estivemos fazendo por muito tempo, estar conectado com os nossos sentimentos e encará-los faz parte do processo de se sentir livre. É necessário entender e admitir que nossa maneira de viver não se deve a uma casualidade, destino ou a um acidente de percurso. Nossa vida é constituída pelas escolhas que fazemos a cada minuto. É difícil encarar que somos nós que boicotamos nossos relacionamentos, que somos nós os responsáveis pelas dificuldades enfrentadas, etc.
            Com freqüência, sabemos o que nos espera quando tomamos determinada atitude. Lá no fundo pode haver dúvidas e incertezas, mas prosseguimos. Só depois vamos ter certeza de que nossas dúvidas eram bem fundamentadas e teremos que aceitar a escolha daquela decisão. Independente, de qual seja nossa escolha, consciente ou inconsciente, ela é nossa. E somente nós poderemos dizer e assumir a dor e a delícia de ser quem somos e o que queremos ser.

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

A verdadeira pergunta é: “quem NÃO sou eu”?



“Em algum lugar de todos nós vive ainda aquele piloto, aquele explorador da África, aquele navegador de mares nunca antes navegados. Em algum lugar dentro de nós vive aquele destemido aventureiro. Em algum lugar dentro de nós, se nos foi permitido executar as explorações do estágio de aprendizado, vive um ser exultante que no passado foi capaz de encontrar maravilhas por toda parte. Hoje está disciplinado e controlado, mas se tiver sorte, uma vez ou outra entrará em contato com aquela auto-embriaguês, com aquela sensação de maravilha. Quando o poeta Walt Whitman ruge: ‘Canto a mim mesmo, e a mim mesmo celebro...Divino sou por dentro e por fora...’, ouvimos o brado bárbaro da criança que começa a aprender, a ser. (...) E enquanto ela anda, corre, sobe, salta, cai e fica de pé outra vez, sente-se tão à vontade neste mundo, tão alegremente confiante, tão indiferente ao perigo, que parece até ter esquecido da mãe.” Judith Viorst – Perdas Necessárias

            Por que optamos sempre pelos caminhos conhecidos ou já percorridos? Por que optamos por manter os mesmos padrões se existem diversas formas de se solucionar um problema?
            O que geralmente acontece é uma repetição dos modelos da nossa formação, normalmente, mas não somente, as figuras paternais. Quando somos pequenos as referências que temos são nossos pais, parentes, professores e nos identificamos com eles. A identificação é um dos processos centrais para a formação do “eu”. Essa identificação pode ser cautelosa, autoritária, amante dos livros, dos esportes, etc, o importante é que nos afirme aquela frase já proferida um dia por quase todas as pessoas: “como minha mãe ou meu pai”. Esse processo de identificação no começo tende a ser global e de abrangência total. Na medida em que vamos crescendo, nos identificamos parcial ou seletivamente. Dizemos “Serei como esta faceta de você, e não como aquela.” Nos tornamos não uma cópia fiel das figuras importantes da nossa vida, mas algo personalizado com um pouco do jeito de ser de cada um, se assim escolhermos, se assim quisermos.
            Segundo Judith Viorst no seu livro Perdas Necessárias, embora nos identifiquemos permanente ou provisoriamente com aqueles que amamos, invejamos, admiramos, podemos também nos identificar com aqueles que provocam nossa zanga ou dos quais temos medo. Tentamos parecer com as pessoas que tememos ou odiamos, na esperança de assim ganhar o mesmo poder e nos defender contra o perigo que representam.
            Através dos anos, enquanto modificamos e harmonizamos essas diferentes identificações – religião, profissão, gênero, qualidades e defeitos, classe social, emoções, comportamentos, habilidades, valores, etc. – possivelmente teremos de nos descartar de outros “eus”. Essa renúncia é uma perda necessária para a construção do seu “eu”. Afinal, entre tantas identificações quem é você? Que comportamentos lhe pertencem? Que caminhos você escolhe seguir por conta e risco?
            Embora, vez ou outra, brincamos com nossa imagem pública, e hoje as redes sociais são mais uma ferramenta para suprir nossa fantasia – fantasia necessária se for utilizada de uma forma saudável – queremos impressionar, agradar, apaziguar, conquistar. E, com certeza, não raras vezes, usamos certa dose de engano, dando a nós mesmos um “curtir”, para aquilo que um observador justo não daria.
            O importante é manter uma conexão razoável entre o “eu” que somos e o “eu” que mostramos.  Pois quando essa conexão se desfaz, podemos, quem sabe, descobrir que o “eu” antes apresentado ao mundo era um falso eu e é aí que, de repente, você se dá conta que vive em Neverland ou qualquer “land” que não é você. O que acontece é que muitas vezes assumimos uma imagem para não assumir de fato quem somos, com receio da dor que podemos sentir ao ter que deixar de lado um mundo idealizado.
            Quando assumimos nosso “eu” temos de renunciar a feliz ilusão de estarmos intocavelmente seguros e abrir mão das simplicidades reconfortantes de um universo protetor. Assumindo nosso “eu” entramos, a princípio, num mundo de solidão, impotência e ambivalência. Porém, conscientes do nosso terror e da nossa glória podemos dizer, sem ilusões e assumindo nossas escolhas, que “este sou eu”. Nos entregamos ao nosso desejo mais profundo de ser e estar sendo o capitão do nosso destino.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Qualidade de vida: desejo de muitos, objetivo de poucos




O que é qualidade de vida para você? Como você pode tornar sua vida profissional mais adequada às suas escolhas pessoais?

O termo qualidade de vida foi utilizado pela primeira vez por Lyndon Johnson, em 1964, então presidente dos Estados Unidos, que declarou: “...os objetivos não podem ser medidos através do balanço dos bancos. Eles só podem ser medidos através da qualidade de vida que proporcionam às pessoas”. (Revista Salus-Guarapuava-PR. jan./jun. 2007). Hoje temos muitas definições sobre qualidade de vida, pois é algo extremamente subjetivo e individual. Porém, sabemos que ela envolve o bem físico, mental, psicológico e emocional, além de relacionamentos sociais, como família e amigos e também a saúde, educação, poder de compra e outras circunstâncias da vida.
Sendo a qualidade de vida também um conceito individual, ela pode ter um significado em um determinado momento da sua vida e depois, num outro momento, ela pode passar a ter outro significado. Pode ser estar com sua família em casa todas as noites e curtir momentos de lazer, ou pode ser jogar bola com os seus amigos, se dedicar para o trabalho ou até mesmo não fazer nada.
Assim, como cada individuo tem um perfil comportamental, funciona e (re)age de determinada forma, cada indivíduo também escolhe como viver e aproveitar melhor a sua vida. Independente disso, não podemos esquecer que precisamos estar equilibrados em todos os aspectos que fazem parte de ser humano.
Segundo Fritjof Capra em seu livro O Ponto de Mutação, para ser saudável e estar em equilíbrio, um organismo tem que preservar sua autonomia individual, mas, ao mesmo tempo, estar apto a integrar-se harmoniosamente em sistemas mais vastos. A doença é, portanto, uma conseqüência de desequilíbrio e desarmonia, e pode, com muita freqüência, ser vista como decorrente de uma falta de integração com o sistema, o meio. Ser saudável significa, portanto, estar em sincronia consigo mesmo – física e mentalmente – e também com o mundo circundante. Quando não existe essa sincronia o mais provável é que ocorra uma doença.
Numa pesquisa recente sobre Stress e Qualidade de Vida, foram ouvidos 480 executivos entre 28 e 52 anos de 328 empresas em 9 Estados e resultado é de se ficar perplexo. Nada menos que 95% dos pesquisados declararam não ter visto os filhos crescerem, 89% disseram ter insônia e um percentual idêntico está frustrado com a carreira. A maioria toma calmante e teme perder o emprego. E mais: 75% sentem falta de lazer e 85% não tiram férias regulares. Apenas 10% se disseram bem casados e 66% admitiram ter aventuras extraconjugais. Outro dado estarrecedor: 22% disseram que seus filhos usam drogas.
Outro dado importante é que problemas causados pelo stress, como depressão, alcoolismo, hipertensão, dor de cabeça e outros, levaram 1,3 milhão de brasileiros a se afastarem do trabalho e receberem auxílio-doença, segundo uma pesquisa recente da UnB (Universidade de Brasília), divulgada no começo de abril deste ano. E o pior é que o stress ainda é tratado como bobagem ou frescura.
Hoje temos todo recurso de mobilidade, mas temos que estar na empresa cumprindo horário das 8h às 18h, por exemplo. Isso quando, para garantir sua boa imagem e mostrar que você “veste a camisa”, esse horário é extrapolado.
Até que ponto é incentivado o uso dos programas de qualidade de vida que as empresas, na sua maioria adotam, para sair nos rankings da melhores, maiores, etc? Se as empresas têm programas de qualidade de vida, considerando o bem estar físico e mental dos seus colaboradores, por que as pessoas estão tão estressadas, tão insatisfeitas e o índice de afastamento só aumenta?
Tenho minhas dúvidas se cabe esperar algo que venha das empresas. Talvez, ainda demore um tempo para que “as empresas” entendam que estão lidando com pessoas e que cada uma delas tem suas particularidades. Esperar pela empresa é se eximir da nossa responsabilidade por nós mesmos. Podemos sim proporcionar a nós mesmos umas boas férias, um bom jantar, um bom final de semana. A busca pelo equilíbrio deve ser constante. O parar e refletir para que caminho estamos indo é fundamental para que não nos distanciemos das pessoas que nos cercam e, principalmente de nós mesmos. Que essa busca seja de uma forma saudável e não quando a doença se instaurar. O engajamento profissional é para fazer o homem progredir em todos os aspectos. Afinal, se nos sentimos felizes no trabalho somente em véspera de feriado ou numa sexta-feira, certamente algo não está indo bem.
Permita-se viver de forma equilibrada, fazendo com que seu trabalho seja um meio para a realização do seu projeto de vida, seus objetivos pessoais e uma oportunidade de evolução como ser humano. Afinal, a realização profissional e qualidade de vida não só podem como devem conviver em harmonia.

A Comunicação vai além das palavras



“Empatizar com uma pessoa, envolve se abster de qualquer julgamento pessoal da situação, deixar de lado a memória pessoal dos eventos e a reação emocional particular à eles, da concepção pessoal das características e objetivos da pessoa e até da concepção pessoal a seu próprio respeito” Psicólogos Sarah Hodges e Daniel Wagner

No primeiro semestre deste ano, saiu na revista Galileu uma matéria falando sobre os cachorros e a empatia. Segundo a matéria, pesquisadores do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazr, em Portugal, constaram que os cachorros parecem sentir empatia pelas emoções humanas, afirmando que os animais usados em terapias poderiam até adquirir as emoções de seus donos. Segue um trecho: “De acordo com o estudo, os animais não copiam simplesmente as emoções que estão ao seu redor. Cães podem ficar chateados como uma criança quando criados em um ambiente familiar com brigas. E podem pedir por ajuda no caso de emergências, o que sugere certo grau de percepção e empatia. [...] A evolução e a domesticação teriam feito com que os cachorros conseguissem sincronizar suas emoções às humanas. Outro motivo seria a seleção artificial, que buscou animais cada vez mais inteligentes – e provavelmente capazes de ‘entender’ melhor as pessoas.”
Será que você já reparou como os cachorros têm a capacidade de persuasão sem emitir uma única palavra? Eles não falam, mas se comunicam conosco o tempo todo. E acredito que, na maioria das vezes, senão em 100% delas, eles são entendidos. Impressionante isso, não?
E você já se deu conta de como os animais conseguem perceber o que estamos sentindo? Quantas vezes quando nos sentimos um pouco tristes ou melancólicos, eles se aproximam e deitam-se ao nosso lado? A sensação é como se eles conseguissem entrar na nossa alma, e conseguem, pois os cães são empáticos nesse sentido. Embora somente o homem tenha realmente a capacidade de entender o processo empático de perceber o outro, de se colocar no lugar dele e ajudá-lo, como somos seres racionais, utilizamos a racionalidade para impedir que esse processo aconteça naturalmente, da forma como está escrito. Pois nesse processo, que escrito, parece simples, colocamos nossos preconceitos, julgamentos, emoções.
Segundo Arthur P. Ciaramicoli e Katherine Ketcham autores do livro o Poder da Empatia, toda experiência inspirada pela empatia começa, necessariamente, com a lembrança de que nossas percepções são limitadas por nossas experiências e nossas interpretações dessas experiências. Por termos essa capacidade de qualificar o que sentimentos, criamos amarras e nos aprisionamos nas nossas próprias emoções.
          Logo, se a empatia pressupõe o não julgamento, os cachorros estão mais avançados do que nós seres humanos. A empatia acontece sem palavras, por meio do olhar, de um movimento, de um latido, de uma lambida.  
Segundo Daniel Goleman a empatia requer, no mínimo, a capacidade de ler as emoções de outra pessoa. Num nível mais elevado, implica aperceber-se, reagir às preocupações e sentimentos não-verbalizados de alguém. No nível mais alto, ter empatia é compreender as questões e preocupações que ficam por detrás do sentimento de alguém. E, uma dica valiosa, para conseguirmos nos conectar com o sentimento do outro, nada melhor que primeiro nos conectarmos com nós mesmos, através do autoconhecimento. Esta é a chave para conhecer o terreno emocional do outro e nos tornarmos verdadeiramente empáticos.
No momento em que você está conectado com o outro, de fato, acontece algo interessante em termos fisiológicos – seu próprio corpo imita o outro quando se sintonizam com os sentimentos dele – sintonia empática. Pode ocorrer também uma sintonia nos batimentos cardíacos. Essa interação denomina-se “entrosamento”. Essa sintonia intensa exige que deixemos de lado nossa própria programação emocional para podermos receber claramente os sinais da outra pessoa, para que possamos fazer um Rapport. ("Rapport é a capacidade de entrar no mundo de alguém, fazê-lo sentir que você o entende e que vocês têm um forte laço em comum. É a capacidade de ir totalmente do seu mapa do mundo para o mapa do mundo dele. É a essência da comunicação bem-sucedida." Anthony Robbins)
        Esse entrosamento espontâneo ocorre também quando duas pessoas começam a conversar e seus movimentos e posturas, tonalidade vocal, velocidade da fala e até mesmo a duração das pausas entre a fala de uma e de outra estão em sintonia, em harmonia.
          Quando assumimos o ritmo, a postura, a expressão facial do outro começamos a nos situar em seu espaço emocional. Sentimos também uma sintonia emocional. Nosso sistema nervoso fica preparado automaticamente para entrar nessa empatia emocional. No entanto, a maneira como utilizamos essa capacidade é, em grande parte, uma aptidão adquirida, que depende da motivação. Nunca podemos dizer que “a temos” em todos os nossos relacionamentos, pois sempre precisamos buscá-la. Por isso, a observação de como os cachorros se comunicam e o que eles conseguem com isso é um bom exercício para desenvolver a capacidade de ter empatia, que está presente na arte de influenciar, na comunicação, na liderança, na persuasão, na inteligência emocional e social, resumindo nos relacionamentos. Lembrando, claro, que cada interação é diferente, cada momento é um novo momento, todo relacionamento é único. Afinal, a empatia é um processo interativo, que exige de você muito mais do que técnicas, exige estar presente, exige alma.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Depois de conhecer a si mesmo você pode pensar em conhecer o outro



“A vida não examinada não merece ser vivida” Sócrates

            Um ponto importante sobre a capacidade de desenvolver a empatia é que requer um investimento de longo prazo. Não é aplicação esporádica. Exige prática, querer e alma. Saiba: é quase impossível fingir ter empatia.
            Segundo Kurt W. Mortensen no seu livro Q.I. de Persuasão, vivemos em um mundo autoabsorvido e ser empático contraria quase tudo que você aprendeu com o mundo. Aprendemos desde pequenos a sermos exigentes, egoístas e egocêntricos. O mundo exige cada vez mais e mais de todos e num curto espaço de tempo. Não podemos ser mais um. Temos que ser o melhor custe o que custar, pagando o preço que for. Nos perdemos nessa busca e nos afastamos de nós mesmos. Nos tornamos vazios com inúmeros sintomas e patologias, carentes de alma, de afeto, de atenção e de amor.
            Por termos que a toda hora tomarmos decisões rápidas pela pressão não só profissional, mas do próprio meio, não paramos para pensar no que estamos vivendo, no que estamos sentindo. Sendo assim, para desenvolver a capacidade de ter empatia precisamos parar e simplesmente desconectar do mundo lá fora, reavaliar tudo que ouvimos e deixarmos de lado os preconceitos, julgamentos, estereótipos, e estar presente neste momento, no agora, no hoje. Vamos transformar nossos olhos em janelas da alma e sentir o que estamos vendo. Olhar para dentro e sentir o que está acontecendo conosco. Sem julgamentos. Entrar em contato conosco é o início do desenvolvimento da empatia. Entrar na sua alma e se conhecer. Se conectar com você mesmo.
            O autoconhecimento é o primeiro exercício na busca pelo desenvolvimento da empatia. Segundo Daniel Goleman sem a capacidade de captar nossos próprios sentimentos, ou impedir que eles se apossem de nós, ficaremos irremediavelmente desconectados dos estados de ânimo das outras pessoas. Para Goleman a empatia é o nosso radar social. Quando estamos desconectados sofremos de surdez emocional que conduz à falta de jeito social, à falta de conhecimento de nós mesmos, o que nos leva a interpretar os sentimentos de uma forma errada ou ser rude e frio com os outros e, principalmente, conosco.
            Infelizmente, a loucura da vida moderna não parece cultivar a mentalidade de encontrar tempo para ajudar os outros, quiçá a nós mesmos. Porém somos responsáveis pelas nossas escolhas e a determinação de qual caminho seguir é sempre uma decisão pessoal e não uma obrigação social.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

“Nossa mente algumas vezes vê o que nosso coração gostaria que fosse verdade”. Dan Brown, Anjos e Demônios

No livro Controle da Mente o Dr Haha Lung coloca a seguinte frase para lermos:

FINISHED FILES ARE THE
RESULTS OF YEARS OF SCIENTIFIC
STUDIES COMBINED
WITH YEARS OF EXPERIENCE¹

Quantos “efes” há na frase que você acabou de ler? Conte-os sem utilizar os dedos.
Agora conte-os novamente, porque você está errado.

Há seis, mas inicialmente a maioria das pessoas vê apenas três porque nossa mente vê (isto é, “ouve”) a palavra “OF” não como “O”-“F”, mas como “O”-“V”, pronunciada “UV”. “Ver” apenas três “efes” significa que seu cérebro está funcionando de maneira perfeitamente normal. Quantas vezes você ouviu alguém dizer: “Os meus olhos estão me pregando peças”? É só assistir a um show de mágica que confirmará essa afirmação. Quantas vezes olhamos para algo e nos confundimos ou tivemos uma ilusão de óptica. Neste exemplo abaixo a mandala parece estar vibrando ou oscilando?


Naturalmente, sabemos que ela não está se movimentando. Esse é um exemplo de quando a lógica supera a falsa percepção. Porém, o contrário muitas vezes acontece: a percepção falha (falsas impressões) prevalece.
                Sempre haverá um motivo para que nossos sentidos ”mintam” para nós de vez em quando. Algumas vezes é culpa da Mãe Natureza; mas a maneira como somos educados, quais comportamentos, vaidades, preconceitos, medos são incutidos na nossa formação quando crianças contribuem para o nosso modo de “ver” o mundo quando adultos.
                Mesmo na vida adulta, as experiências negativas repetidas podem contaminar a forma como percebemos o mundo. Nossas percepções passam por diversos filtros retirados de nosso arquivo pessoal – local onde mantemos todos os nossos pequenos medos e maiores fobias, nossos preconceitos, desejos ocultos e segredos obscuros.
                O mundo, as pessoas o tempo inteiro nos mandam sinais, no entanto, na correria do dia-a-dia, na pressão por resultados, por olharmos sem ver, somos pegos de surpresa. Não porque os sinais não foram enviados, mas porque sempre achamos que aquilo não aconteceria conosco ou pelo simples fato de estarmos envolvidos com outras coisas que julgamos mais importantes, entre tantos outros motivos. O que eu quero dizer é que sempre sabemos que aquilo iria acontecer se tivermos um pouco mais de atenção aos sinais. Pare para pensar, por exemplo, quando você se separou de alguém. Nós sempre mandamos sinais. O outro de uma forma ou de outra está sempre sinalizando. Em pequenas mudanças, em pequenas atitudes ou gestos, ou falta de alguma coisa.
                Quanto mais nos conhecemos, tanto nossos pontos fortes como nossos aspectos a desenvolver (que são fracos) maiores são as chances de não sermos pegos de surpresa nas situações da vida. Isso não quer dizer que você vai ficar desconfiando de tudo e de todos. NÃO! Desenvolver sua capacidade de perceber o mundo, o seu mundo e as pessoas, facilita na sua relação com elas e com você mesmo. Não tenha medo de se conhecer. 

¹“Arquivos encerrados são o resultado de anos de estudos científicos combinados a anos de experiência”

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A diferença dos iguais

Evoluímos muito nas questões tecnológicas, médicas, sociais, mas permanecemos estagnados e diria que, até em muitos aspectos, regredimos nas questões humanas. É preciso campanhas e mais campanhas, ou seja, dinheiro e mais dinheiro para tentar conscientizar as pessoas sobre o respeito à escolha sexual de cada um, sobre irmandade com o negro, sobre a aceitação aos menos favorecidos.
Atualmente fala-se tanto na questão da diversidade – racial, sexual, cultural, social - discussão saudável e importante, mas que considero algo que já deveria ser sabido e internalizado por todos: o fato de aceitarmos essas diferenças.
Como já disse em textos anteriores, fazemos parte de um todo. E uma bomba lançada no Japão afeta o mundo. Mundo esse que vivemos. Não estamos imunes a nada. Somos um todo e podemos contribuir para a evolução do ser humano fazendo a nossa parte, transmitindo valores, deixando de herança para as novas gerações não somente bens materiais, porém, sobretudo bens espirituais.
Segundo Marilu Martinelli no seu livro Aulas de Transformação, valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Todos os seres humanos podem e devem tomar conhecimento dos valores a eles inerentes. A causa dos conflitos que afligem a humanidade está na negação dos valores como suporte e inspiração para o desenvolvimento integral do potencial individual e consequentemente do potencial social.
Acredito que precisamos, urgentemente, resgatar e solidificar esses valores, por meio da vivência que alicerça o caráter e reflete-se na conduta como uma conquista espiritual da personalidade. Vivemos tempos críticos onde a violência é vista como normalidade (ah! É só mais um assalto, é só mais um sequestro, etc). O mundo está desesperado e, o que é pior,  doente de alma. Isso tudo acontece à nossa volta devido ao fato de grande parte da humanidade ter esquecido seus valores e, até mesmo, considerá-los ultrapassados e desinteressantes.
O medo, a falta de amor e de confiança têm qualificado nossos relacionamentos com o outro e com o mundo. Por isso, a necessidade de campanhas nos dizendo "que é bonito, que é legal" você aceitar o outro com as suas diferenças. É tão óbvio o respeito pelo outro. Talvez, possa ser para mim, possa ser para você. Mas, se continuarmos nessa toada daqui a pouco teremos campanhas ou programas dentro das empresas explicando como ser humano.
Como disse Marilu Martinelli, o resgate dos valores humanos é o nosso grande desafio, mas o ser humano tem reservas inesgotáveis de transformação. Temos, nos valores morais e espirituais, o grande instrumento de aprimoramento e o traço de união dos povos, sem distinção. Os valores promovem a verdadeira prosperidade do homem, da nação e do mundo. E é a partir deles que podemos entender e aceitar as diferenças dos nossos iguais.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Somos incapazes de guardar segredos, porém nem todos são capazes de decifrá-los

Certa vez estava numa palestra de um Diretor de RH de uma grande companhia aérea que falava sobre como desenvolver pessoas. E num determinado momento ele começou a falar sobre empatia, um assunto que estudo, e deu um exemplo que considerei perfeito para o meu entendimento do tema.
            Ele contou que seu irmão estava passando por uma situação muito difícil e o procurou para desabafar. Após ouvi-lo, ele disse: “se eu fosse você faria...”. O irmão o interrompeu no mesmo instante e disse: “se você fosse eu, você faria exatamente o que eu estou pensando em fazer”. O irmão não recebeu aquela frase com empatia, mas de uma forma negativa, claro!
            Se dissermos dessa forma, estamos dizendo que iremos agir como o outro e nós não somos o outro. E mais, nem todos têm essa capacidade de se despir de si mesmo e se colocar no lugar do outro de uma forma livre de qualquer julgamento.
Tendemos a agir mais como no filme “Se eu fosse você” onde eles trocam de corpos, mas agem com os seus conceitos de certo e errado, com as suas formas de ver o mundo, com as suas maneiras de solucionar um problema, etc. Isso não é ser empático. É ser você na vida do outro. Essa ideia não seria tão ruim assim para desenvolver a capacidade de empatia.
Ser empático passa bem longe de ser o outro. Se colocar no lugar do outro sim, mas não sendo você. É ser capaz de perceber as pistas emocionais que estão por trás de qualquer discurso. Lembre-se que as pessoas, nós, sempre temos nossas razões para ocultar nossos verdadeiros sentimentos. Raramente dizemos em palavras aquilo que estamos sentindo. Mas, nos revelamos pelo tom da voz, pelas expressões faciais, pelos movimentos do corpo e etc. Freud disse “o ser humano é incapaz de guardar segredo. Quando seus lábios estão silenciosos, eles fofocam com os dedos, e se revelam através de cada poro”. Concordo com um dos meus grandes Mestres, porém acrescento que apesar de não sermos capazes de guardar segredos nem todos são capazes de decifrá-los. 

domingo, 4 de dezembro de 2011

Somos quem queremos ser ou somos quem podemos ser?

A necessidade de conhecer-se sempre foi uma das angústias inerentes ao ser humano. Já nascemos e somos alguém, no sentido social, ou seja, já temos um nome e sobrenome. Isto é uma das etapas da construção do ser alguém, de se conhecer. E nessa construção nos deparamos com padrões, valores sociais, que nem sempre nos identificamos, mas que optamos seguir. E pelas nossas escolhas vamos nos construindo, dando forma a algo idealizado. Mas, idealizado por quem? Por nós mesmos? Pelos nossos pais? Pela sociedade? Será que somos quem queremos ser ou somos quem podemos ser? É fato vivemos numa época de valores e sentimentos fugazes. Temos mais ofertas, mais opções e na nossa sociedade de hoje temos a liberdade de escolher o que queremos, com quem queremos e como queremos. E ter a responsabilidade de escolher nos gera uma angústia que Sartre chamou de náusea, que nos faz ter que encarar, muitas vezes, a falta de sentido das nossas escolhas que formam o nosso existir, que dará sentido, ou não, a nossa existência.
Segundo o existencialismo sartreano não há determinações sobre o que devemos ser e fazer de nós mesmos. Não há uma natureza humana que defina o que todos os seres humanos devem ser e nada que defina o que seja ser humano. Para Sartre, somos as escolhas que fazemos, vamos construindo nosso ser no caminhar de nossa existência - somos donos do nosso destino. A pessoa deve produzir sua própria essência, porque nenhum Deus criou seres humanos de acordo com um projeto divino definido. Somos o que fazemos de nós mesmos, sendo assim somos quem queremos ser, de acordo com o contexto que vivemos. Quando diz "a existência do homem precede sua essência", ou "no homem, a existência precede a essência", ele quer dizer que o homem se apresentou no mundo sem qualquer projeto concebido previamente por um Criador. Não havendo tal essência, todos são iguais e igualmente livres para se fazerem. Quando dizemos que “somos quem podemos ser”, cremos que existe "algo" maior do que nós mesmos que decide nossa existência acreditamos que somos pré-destinados a ser o que somos; que tudo está determinado e, por conseguinte não somos responsáveis pelas nossas escolhas, somos vítimas do nosso destino e das mãos de algum “deus”. E segundo a visão sartreana estas pessoas agem de má-fé, não admitem que sejam responsáveis pelas suas escolhas. Enquanto o homem usar como pretexto entidades não vai conseguir construir uma autonomia e entender que ele pode ser o que ele quer ser, pois quando você não tem essa “Divindade” como subterfúgio, você se obriga a ser o dono de suas escolhas, do seu caminho, da sua existência.

sábado, 3 de dezembro de 2011

Contardo Calligaris

Contardo Calligaris (Milão1948) é um psicanalista italiano radicado no Brasil. É colunista da Folha de S. Paulo. É casado desde maio de 2011 com a atriz Mônica Torres.
Sua primeira formação foi em Epistemologia Genética, na Suíça, numa faculdade em que Jean Piaget palestrava. Nesse momento, os estudos de Calligaris foram direcionados às ciências sociais. Ao mesmo tempo, fez graduação em Letras que o permitiu ensinar teoria da literatura.
Mais tarde, em Paris, se dedicou ao doutorado em Semiologia, com Roland Barthes.Nesse momento, começou a fazer análise (como paciente), o que, a princípio, não tinha relação com sua formação.A partir dessa experiência passou a interessar-se por Psicanálise.
Tornou-se membro da Escola Freudiana de Paris em 1975. Durante esse período, frequentava as apresentações de casos de pacientes feitas por Jacques Lacan.
Doutor em Psicologia Clínica pela Universida da Provença (França), onde defendeu a tese "A Paixão de Ser Instrumento", estudo sobre a personalidade burocrática. Professor de Antropologia naUniversidade da Califórnia em Berkeley (Estados Unidos), e de Estudos culturais na New School of New York.
O primeiro contato com o Brasil foi em 1986, após a edição de seu primeiro livro de Psicanálise, "Hipótese sobre o fantasma". Devido a isso, o autor fez diversas palestras pelo país, onde acabou se casando, e teve 3 filhos. Em São Paulo, um grupo de analistas propôs que ele ficasse 15 dias a cada 2 meses no país, para se reanalisarem com ele. Calligares achou a proposta interessante e aceitou, chegando a vir morar no Brasil posteriormente.
Além da vida acadêmica, escreve semanalmente,no caderno ‘Ilustrada’, da Folha de S. Paulo, desde 1999, e é autor de diversos livros.

Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Contardo_Calligaris


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu, você e o amor. Uma relação a três.

Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar. (Dalai Lama)

Somos seres desejantes, já nos disse Freud. Um dos nossos desejos é o de encontrar aquela pessoa que vai fazer nosso estômago borbulhar, nossa mão suar, as palavras sumirem e nada mais ao redor existir.
Quando isso acontece e na medida em que vamos conhecendo o outro, desejamos que seja para sempre de tão especial, mágico e único. São muitas sensações despertadas por esse encontro.
Porém, existe um grande desafio nas relações a dois – a de não se perder, mais do que a possibilidade de perder o outro. Como manter sua individualidade e sua identidade?
É como se a relação fosse uma terceira pessoa fruto de duas outras que possuem suas características, qualidades, defeitos, sonhos e expectativas e que serão, igualmente, responsáveis pelo desenvolvimento e construção dessa terceira.
A outra questão é: como manter vivo esse sentimento despertado naquele primeiro encontro de olhares?
Seguindo a ideia de que o relacionamento é uma terceira pessoa, uma analogia para entendermos que é preciso ter certos cuidados e atenção é pensar nas fases de desenvolvimento de um indivíduo/pessoa.
Quando bebê, ele precisa de todo cuidado. É totalmente dependente dos pais. Precisa ser alimentado, principalmente de muito afeto. A libido (energia) dos pais está focada e concentrada nele. Assim, acontece no início das relações. Estamos com a nossa libido totalmente voltada para o outro. Com o passar do tempo essa criança precisa entender que os pais têm outras ocupações, interesses e preocupações. Os pais não vivem em função e para ela. Existem momentos de lazer, trabalho, amigos. Isso não quer dizer que os pais não amem essa criança, mas é necessário que ela entenda os limites da individualidade. Abrir mão da sua vida não significa amar.
Com o entendimento das outras necessidades dos pais a criança vai amadurecendo e descobrindo novas formas de demonstrações de afeto. Além do quê, vai ficando mais segura e confiante, afinal amar não significa estar presente fisicamente em cada passo do outro, toda hora, todo instante, mas se fazer presente mesmo ausente. É querer estar junto, não por insegurança, possessividade ou até mesmo medo de perder, mas por querer genuinamente e por prazer em estar junto.
E, assim como no desenvolvimento do indivíduo, o relacionamento também passa por algumas crises, ou seja, passa pela adolescência que é uma fase onde estamos sujeitos a revoltas, rebeldias, confrontos e atitudes impulsivas. Passa pela crise dos 30, 40 e assim por diante. São momentos onde é necessário muito cuidado. E se nas fases anteriores o respeito, a compreensão, o carinho foi sedimentado, essa fase por mais turbulenta que seja vai passar com os dois de mãos dadas, lado a lado.
A maturidade chega, escolhas são feitas, novas descobertas revelam sensações que você nunca imaginou sentir com a mesma pessoa. O tempo passa e quando você olhar para essa terceira pessoa – o relacionamento – saberá que ali tem um pouco de você e do outro, foi construído por vocês. Ele é o reflexo de cada um.
Cuide do seu relacionamento como se fosse um filho. Alimente, escute, brinque, discorde, transe, ame. Não é sufocando, nem impondo e prendendo que você terá a garantia de ter a pessoa com você. Relacionamentos são construídos e solidificados com base em valores, não em regras impostas.
Se o seu relacionamento está fundamentado em valores como respeito, cuidado com o próximo, amor e admiração, ele vai refletir e se comportar como deve ser – leve, livre e entregue a você.

Amar é deixar ser. (Clarice Lispector)

Filosofia e poesia

            A filosofia surgiu, por um lado, em função dos caminhos já antes percorrido pelos poetas, por outro ela nasce propondo um modelo de compreensão do real alternativo ao mito/poético. Enquanto a mito/poética tem seu pensamento fundamentado na arte da invenção, a filosofia encontrará na interpretação seu modo de pensar.
            A primeira diferença a partir da qual todas as demais se estabelecem, seria acerca da ideia de princípio (arché). O fator maior que aproxima a filosofia da mito/poética consiste na decisão pelo objeto – o cosmo e depois, por extensão, a phýsis. As duas são modelos de conhecimento da realidade, possuem o mesmo objeto, mas a explicam de forma diferente. Os primeiros filosófos removem a ideia de princípio do âmbito do divino, deslocando-a para a própria realidade dada. A natureza não precisa mais ser explicada pelo que a ultrapassa em poder e sensibilidade, ela agora pode ser explicada a partir de si mesma, e se torna, assim, suficiente para o conhecimento, libertando-o do jugo dos deuses.
            Não se pode negar o parentesco inicial da filosofia com a poesia. Surgida num ambiente banhado pelos poemas homéricos e onde as demais obras de tantos outros poetas formavam, praticamente, todo o conhecimento da sociedade grega antiga, a filosofia não poderia ser indiferente, mesmo que seja para marcar uma oposição a ele – como a sua forma de ver a realidade. Segundo Havelock, os poetas e as poesias eram tidos como “as principais autoridades citadas como responsáveis por um certo tipo de moralidade questionável como aponta o desafio de Socrátes”.
            No texto A Crítica de Platão ao discurso poético no livro X da República, Adriana Natrielli cita alguns pontos de vista de diferentes autores a interpretação do livro X. Cross e Woozley divergem um pouco de Havelock, “em relação ao fato de que a questão política seria apenas um pretexto para a real intenção de Platão em criticar toda a tradição educativa grega veiculada através da poesia. Pois, segundo os autores, se a crítica da poesia só faz sentido em termos de educação, há também que se considerar a função social da arte dentro da esfera coletiva da cidade ideal que está sendo proposta na República”.
A filosofia, no entanto, tem como papel a investigação, o questionamento, a interpretação. No texto Discurso, conceitos e a formação da lógica, fica claro a diferença do método mítico poético para o metódo filosófico quando vemos que o objeto principal de investigação de Sócrates é a conceituação das palavras. Sócrates afirma que “se não soubermos os significados das palavras não conseguiremos entendê-las, não conseguiremos formular uma opinião sobre, pois para criarmos um conceito temos que ter uma prévia ideia do que é o objeto que queremos criar um conceito. Seríamos remetidos imediatamente a um mundo real, as próprias coisas, ou às próprias ideias, por uma linguagem que se faz transparente”.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

“O acaso só favorece a mente preparada” — Louis Pasteur

Para entender um pouco mais a questão do acaso escolhi duas palavras que explicam o que, talvez, não tenha explicação. Essas palavras são Serendipity e Sincronicidade.
A palavra Serendipismo se origina da palavra inglesa Serendipity, criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir do conto persa infantil Os três príncipes de Serendip. Esta história de Walpole conta as aventuras de três príncipes do Ceilão, atual Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas, cujos resultados eles não estavam procurando realmente. Graças à capacidade deles de observação e sagacidade, descobriam “acidentalmente” a solução para dilemas impensados. Esta característica tornava-os especiais e importantes, não apenas por terem um dom especial, mas por terem a mente aberta para as múltiplas possibilidades.
Conta-se também que Newton foi levado a descobrir a Lei da Gravitação Universal por uma queda fortuita de uma maçã, que se teria registrado mesmo à sua frente, numa tarde em que tomava chá no jardim. Pensando no motivo que levaria a maçã e ser atraída para a Terra, o físico inglês pensou que essa força de atração poderia ser a mesma que mantinha os planetas em órbitas estáveis.  Alexander Fleming foi levado a descobrir a penicilina ao verificar que algumas culturas de bactérias que estudava morriam quando um certo tipo de bolor se desenvolvia nessas culturas. Estudando os constituintes desse bolor, veio a isolar o primeiro antibiótico. Foi assim que o médico escocês fez uma das descobertas mais importantes dos tempos modernos.
Em todos estes casos, tais como em centenas ou milhares de outros, houve cientistas que foram levados a descobertas fundamentais por acontecimentos fortuitos que souberam aproveitar habilmente. O acaso teria desempenhado um papel fundamental em todos estes acontecimentos felizes, mas é evidente que foi preciso o gênio e a perspicácia dos investigadores para que esses acasos se tivessem transformado em descobertas.
Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se encontram não por relação causal e sim por relação de significado. Certo dia Carl Gustav Jung ouvia uma paciente em seu consultório na Suíça. Tratava-se de uma mulher hiper-racional que resistia às técnicas de Jung para melhorar seus relacionamentos. Enquanto a paciente descrevia um sonho em que ela recebia um escaravelho dourado, Jung ouviu um som vindo da janela. Ao aproximar-se, ele viu um besouro Cetonia aurata – o mais próximo de um escaravelho dourado naquela região – tentando entrar no consultório. Jung abriu a janela, pegou o besouro na mão e o mostrou à paciente, dizendo: “Aqui está seu escaravelho”. Sabendo que aquele besouro era um símbolo de renascimento no antigo Egito, a paciente ficou tão emocionada com a coincidência que se pôs a chorar ali mesmo. Sua carapaça racional havia se quebrado, e ela logo receberia alta. Jung, por sua vez, criaria a tese da Sincronicidade a partir desse incidente.
Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão. Essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico, que Jung denominou de “insight”.
Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não os relacionando com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa” de dois ou mais fatos. Foi um princípio que Jung sentiu abrangido por seus conceitos de Arquétipo e Inconsciente coletivo.
A sincronicidade pode ser uma crença do que no fundo nós gostaríamos que acontecesse? O materialista sem dúvida dirá que não passam de disposições fortuitas de acontecimentos, de “caprichos do destino”. O crédulo aceitará como “vontade de Deus”. O cientista irá vê-los no contexto das leis de causa e efeito. O filósofo, de acordo com a sua visão de mundo.
A física nos diz que existe a lei da atração, ou seja, nossos pensamentos, nossa vibração e querer atraem o que desejamos – magnetismo. No fundo atraímos o que queremos. E enxergamos o mundo e o que acontece conosco da forma como queremos e muitas, e não raras as vezes, de uma forma limitada. Por isso, que o acaso só favorece a mente preparada e ampla.
A sincronicidade também acontece conforme a nossa forma de ver o mundo, de pensar, de desejar. É uma escolha nossa acreditar ou não no acaso. Agora, se você observar o mundo ao seu redor verá que as pessoas que você atraiu durante a sua vida, ou mesmo nesse momento, geralmente, são pessoas com situações, problemas, contextos e formas de ver o mundo muito semelhante ao seu, ou se são pessoas que, aparentemente, não fazem sentido você acaba percebendo (se estiver preparado para isso) que ela foi a resposta das suas questões.
Será que podemos interpretar a sincronicidade como validação de que estamos no caminho certo? Talvez. Porém, mais do que isso ela nos mostra que estamos conectados não apenas nas redes sociais. Nossas almas estão conectadas pelas vibrações que emanamos por meio dos nossos pensamentos e atitudes.
Mais do que nos trazer respostas, a sincronicidade nos faz entender que fazemos parte de um todo. Que uma mudança na nossa forma de pensar não muda apenas o nosso mundo, mas o universo ao nosso redor. Somos mais do que nossos olhos podem ver e podemos ter um alcance maior do que nossa vão filosofia, um dia, quem sabe, poderá supor.

Indico o filme Serendipity que é uma comédia romântica que explica um pouco da questão do acaso.



Fontes consultadas: