domingo, 15 de julho de 2012

Pelo olhar do outro que eu me vejo




O trabalho de autoconhecimento reflete no olhar para nós mesmos e para o mundo.
 Ana Paula Matos

Existe um longo caminho até a mudança, mesmo porque a compreensão racional não é como a compreensão emocional. Não é fácil mudar um comportamento, mesmo porque este comportamento vem carregado de sentimentos e emoções, está cheio de passado. Embora todos os dias, a todo o momento temos a oportunidade de escolher como será nosso agora, não é fácil mudar um comportamento. Mesmo esse comportamento nos gerando sentimentos indesejados.
Theo Roos, no seu livro Vitaminas Filosóficas diz que Nietzsche sempre foi de encontro aos comportamentos difíceis de ser alterados. Já é complicado reconhecer nossos comportamentos, imagine mudá-los! É uma ginástica, uma tensão, uma permanente intranquilidade. Esses comportamentos por estarem tão entranhados em nós, são difíceis de mudar, porém não são impossíveis. “O familiar”, escreve Nietzsche em A Gaia Ciência, “é o habitual; e o habitual é o mais difícil de conhecer, isto é, de ver como problema, como alheio, como distante, como exterior a nós”. E é pelo olhar do outro que eu me reconheço, é pelo outro que eu me vejo. Não estamos sozinhos e não conseguiremos sozinhos. Fazemos parte de um todo, somos o todo.
Segundo Deepak Chopra, no seu livro O Efeito Sombra, pode parecer estranho, mas os sentimentos têm sentimentos. Sendo parte de nós, eles sabem quando são indesejados. O medo coopera ao se esconder; a raiva coopera fingindo não existir e por aí vai. E como podemos fazer para lidar com sentimentos que permanecem e refletem no nosso comportamento ainda hoje, como resquícios de uma perda, de um acidente, de uma ruptura, de uma rejeição amorosa, de um fracasso escolar?
A agitação, a correria do nosso dia-a-dia, o crescimento desenfreado da nossa sociedade nos afetam diretamente. É difícil dar conta desse ritmo. E isso nos distancia mais ainda de nós mesmos. É até irônico pensar que a pessoa com quem convivemos todo tempo, com quem acordamos e dormimos juntos, muitas vezes é nosso maior desconhecido. Queremos ser bem sucedidos no mercado de trabalho, queremos ser donos do nosso nariz, conquistar uma posição de destaque social, fazer e acontecer no mundo, mas mal conseguimos reconhecer nossos sentimentos, mal sabemos quem somos, por que reagimos de tal forma, por que permitimos que determinadas situações se repitam.
            Investimos nosso tempo e dinheiro para buscar atualização sobre o mercado, sobre novas e melhores práticas de negócios, em melhorar nossas competências profissionais e não, investimos nem 1% de tempo e dinheiro para nos conhecermos, para saber quem é esta pessoa que está comigo 24 horas do dia.
Receber formação e treinamento é algo perfeitamente normal em outros campos, mas na administração e conhecimento do próprio Eu é proibido, é vergonhoso, afinal, ainda hoje não é difícil ouvir que terapia é coisa para louco, para quem tem problema, para quem não consegue se ajudar. O mundo mudou, pessoal!!! Olhar para si mesmo é para poucos. Somente os corajosos encaram esse encontro consigo e com o mundo. Precisamos nos conhecer, conhecer o outro, reconhecer nossos pontos fracos, potencializar nossos pontos fortes e para isso precisamos do olhar do outro - para sermos melhores, para nos desenvolvermos, para evoluirmos.
As escolas, assim como as empresas não se preocupam em formas pessoas que pensem, mas em formar pessoas que façam o que tem que ser feito sem questionar, sem muitas análises. Somos treinados para reproduzir, para replicar o que nos foi passado. Se pararmos para pensar o mundo a nossa volta faz questão de tampar nossos olhos para nós mesmos.
Podemos buscar o olhar do outro, em um amigo, nos nossos pais, nosso parceiro ou num profissional. O terapeuta também cumpre esse papel do outro, com suas técnicas, seus métodos e sua sensibilidade. Ele nos auxilia a enxergar nossos sentimentos e comportamentos, a articularmos nossa demanda, a constituirmos, a descobrirmos na nossa fala em relação à nossa história e extrair, a partir de certa sequência, uma mensagem em que poderá ser veiculado um sentido. Por meio da terapia, podemos encontrar “os por quês” para determinados comportamentos, sentimentos e emoções e, se for o caso mudar ou amenizá-los; aliviar as nossas dores e, contudo nos tornar pessoas melhores e orientadas para o nosso projeto de ser no mundo. Como disse Theo Roos, escavar a si mesmo é um processo demorado e nada simples, mas que nos trás o perdão e alívio para nossas culpas.

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