Há 15 anos, num verão em Parma, na Itália, um macaco esperava em um laboratório que os pesquisadores voltassem do almoço. Delicados fios haviam sido implantados na região do seu cérebro que planeja e executa movimentos. Todas as vezes que o macaco agarrava ou movimentava um objeto, algumas células dessa região do cérebro disparavam e um monitor registrava um som.
Um aluno de pós-graduação entrou no laboratório com uma casquinha de sorvete na mão. O macaco olhou fixamente para ele e, em seguida, algo espantoso aconteceu: quando o estudante levou a casquinha aos lábios, o monitor soou novamente – mesmo o macaco não tendo feito nenhum movimento, apenas observado o aluno. Os pesquisadores, chefiados por Giacomo Rizzolatti, um neurocientista da Universidade de Parma, já tinham observado esse mesmo estranho fenômeno com amendoins. As mesmas células cerebrais disparavam quando o macaco via seres humanos ou outros macacos levarem amendoins à boca ou quando ele próprio fazia isso. Os cientistas descobriram células acionadas quando o macaco quebrava a casca de um amendoim ou ouvia alguém fazê-lo. O mesmo ocorria com bananas, uvas passa e todo tipo de objetos. "Demoramos anos para acreditar no que estávamos vendo", diz Rizzolatti.
O cérebro do macaco tem uma classe especial de células, os neurônios-espelho, que disparam quando o animal vê ou ouve uma ação e quando a executa por conta própria.
Mas, se essas descobertas, publicadas em 1996, surpreenderam a maioria dos cientistas, uma recente pesquisa deixou-os estupefatos. Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes, flexíveis e altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria resultado na evolução de habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.
O cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e suas emoções. "Somos criaturas requintadamente sociais", diz Rizzolatti. "Os neurônios-espelho nos permitem captar a mente dos outros não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando."
Essa descoberta vem sacudindo várias disciplinas científicas, alterando o entendimento de cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. E também de fatos do cotidiano.
Os neurônios-espelho revelam como as crianças aprendem, por que as pessoas gostam de determinados tipos de esporte, dança, música e arte, por que assistir a cenas de violência na mídia pode ser danoso e por que há quem goste de pornografia.
Encontradas em várias partes do cérebro, essas células disparam em resposta a cadeias de ações relacionadas a intenções. Algumas são acionadas quando uma pessoa estende a mão para pegar um copo ou observa alguém pegar um copo; outras disparam quando a pessoa coloca o copo sobre a mesa e outras ainda quando a pessoa estende a mão para pegar uma escova de dentes e assim por diante. Elas reagem quando alguém chuta uma bola, vê uma bola sendo chutada e diz ou ouve a palavra "chutar". "Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no seu cérebro", diz Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), que estuda o tema. "Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu cérebro um padrão dessa ação baseado nos seus próprios movimentos."
Em resumo, ao observar a ação de outra pessoa, conseguimos interpretar suas intenções. "E, se você me ver emocionalmente aflito por ter perdido algo, os neurônios-espelho do seu cérebro simulam minha aflição. Automaticamente, você sente empatia por mim porque, literalmente, sente o que estou sentindo." Os neurônios-espelho parecem analisar cenas e ler mentes.
A conotação usual de ser empático é identificar-se com uma outra pessoa e lhe apreciar-lhe ou compartilhar-lhe os sentimentos. Entretanto, no contexto da inteligência social, há um nível adicional de profundidade – a sensação de vínculo – que inspira as pessoas a cooperar. Nesta discussão, a empatia é definida como um estado de sentimento positivo entre duas pessoas, o que conhecemos comumente como a reciprocidade.
O senso comum diz que as pessoas estarão mais inclinadas a cooperar e concordar conosco, e a nos apoiar e ajudar, caso nos apreciem e compartilhem um senso de respeito e afeição mútuos. Desenvolver empatia com uma outra pessoa significa conseguir que ela compartilhe com você um sentimento de vínculo, que a induza a mover-se com e rumo a você, e não contra e para longe de você.
Não é realista achar que podemos molestar as pessoas, insulta-las, faze-las sentir-se insignificantes, mal amadas ou indignas; elogia-las quando precisamos de algo e ignora-las quando não precisamos; e depois de tudo esperar que elas tenham conosco uma sensação de vínculo. A empatia requer um investimento de longo prazo, não a aplicação episódica de “charme”. Para chegar a empatia, é necessário um compromisso pro-ativo. Você precisa “agregar valor” ao modo como as outras pessoas o vêem.
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