quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

O que você está dizendo?



“As pessoas não são perturbadas pelas coisas, mas pelo modo que as veem”. Epicteto

“Quando expressamos nossas necessidades de forma clara para o outro, temos mais chances de vê-las satisfeitas”. Marshall B. Rosenberg

            No seu livro Comunicação Não-Violenta, Marshall B. Rosenberg diz que nossos sentimentos resultam de como escolhemos receber o que os outros dizem e fazem, bem como de nossas necessidades e expectativas específicas naquele momento. Temos que aceitar a responsabilidade pelo que fazemos para gerar os nossos próprios sentimentos. Estamos acostumados a pensar no que há de errado com as outras pessoas sempre que nossas necessidades não são satisfeitas. No entanto, quando começamos a conversar sobre o que precisamos, em vez de falarmos sobre o que está errado com o outro, a possibilidade de encontrar maneiras de atender às necessidades de todos, tanto a minha como a do outro, aumenta consideravelmente.
            O sucesso numa comunicação e, consequentemente nos nossos relacionamentos, pode depender muito de dizer a coisa certa no momento certo. James Borg no seu livro A Arte da Persuasão, diz que a linguagem pode influenciar os pensamentos, e as palavras são as ferramentas que podemos usar para criar imagens mentais. As palavras podem ser usadas para moldar e, muitas vezes, distorcer a forma como pensamos. Elas podem comunicar muito mais do que fato e ideias. Cuidadosamente escolhidas, as palavras, podem pintar quadros mentais que emergem sentimentos e emoções. Como escreveu Mark Twain: “A diferença entre a palavra certa e a palavra quase certa é a diferença entre o raio e o vagalume”.
            A Psicolingüística, que estuda as conexões entre a linguagem e a mente, analisa qualquer processo que diz respeito à comunicação humana, mediante o uso da linguagem (seja ela de forma oral, escrita, gestual etc.). Essa ciência também estuda os fatores que afetam a decodificação, ou seja, as estruturas psicológicas que nos capacitam a entender expressões, palavras, orações, textos. A comunicação humana pode ser considerada uma contínua percepção-compreensão-produção. Pesquisadores dessa área observam como as palavras afetam nossas mentes e emoções.
            Quando queremos transmitir uma mensagem criamos na nossa mente uma imagem que é traduzida em palavras. Então, no papel de emissor (codificador), transmitimos essa mensagem ao receptor (decodificador). Ele, por sua vez, absorve as palavras e as traduz em uma imagem – a própria imagem dele do que foi dito. Ele é quem decide o que essa imagem quer dizer. A interpretação acontece na mente dele, de acordo com suas emoções do momento, contexto, história, etc. Se o que dissemos não foi absorvido pelo receptor da mesma forma como construímos a imagem mental, a comunicação não foi eficaz. É importante que utilizemos a linguagem do outro para obtermos sucesso na comunicação. E para isso, perceber, observar, conhecer o outro é fator fundamental para uma comunicação de sucesso. É claro que, com o fato da natureza humana ser algo tão complexo, é impossível saber como as palavras serão interpretadas e, portanto, recebidas. Mas, se formos capazes de entrar na mente da pessoa, podemos escolher as palavras com as melhores chances de produzir o efeito desejado.
             A questão neste caso é que temos dificuldade em comunicar o que queremos. Devemos expressar o que estamos pedindo, e não o que não estamos pedindo. Marshall Rosenberg dá um exemplo claro dessa dificuldade de comunicação:

Num seminário, uma mulher, frustrada porque o marido estava passando tempo demais no trabalho, descreveu como seu pedido tinha se voltado contra ela: “Pedi que ele não passasse tanto tempo no trabalho. Três semanas depois, ele reagiu anunciando que havia se inscrito num torneio de golfe!” Ela havia comunicado a ele com sucesso o que ela NÃO queria – que ele passasse tanto tempo no trabalho -, mas tinha deixado de pedir o que ela realmente queria. Solicitada a reformular seu pedido, ela pensou por um minuto e disse: “Eu queria ter-lhe dito que desejava que ele passasse pelo menos uma noite por semana em casa comigo e com as crianças”.

Além de utilizarmos uma linguagem positiva, devemos evitar frases vagas, abstratas ou ambíguas e formular nossas solicitações na forma de ações concretas para que os outros possam entender e realizar. É sempre importante estar atento às palavras, assim evitamos inconvenientes e o esforço de desfazer deslizes verbais. Claro que não devemos perder a naturalidade, a espontaneidade e a emoção na comunicação. Portanto, garanta que a mensagem pretendida seja transmitida com as palavras certas e no momento certo. Certas palavras podem ser adequadas em uma ocasião, e não em outra. Para tanto, o cuidado e a empatia com o outro são fundamentais, caso contrário às palavras podem virar contra você mesmo.

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