terça-feira, 10 de janeiro de 2012

A compreensão além das palavras

Existe algo imprescindível para uma boa comunicação – ESCUTAR. Mais do que falar, do que saber colocar as palavras, saber escutar é algo raro. Uma qualidade de poucos. Mesmo porque na maioria das vezes ouvimos o outro e não o escutamos. Ouvir é uma atividade sensorial, um processo fisiológico, no qual conexões auditivas transmitem informações para o cérebro por meio, é claro, dos ouvidos. Escutar é um processo psicológico que denota um processo de interpretação e compreensão. Significa derivar sentido do que está sendo ouvido. Além do mais, escutar requer empatia, ou seja, estar livre de julgamentos. É estar conectado com o outro, estar presente no momento.
           A habilidade de escutar talvez seja a mais importante para a construção de relacionamentos bem sucedidos e está muito ligada a ter uma inteligência emocional desenvolvida. Carl Rogers, psicólogo humanista, disse que “a inabilidade do homem para se comunicar é resultado de sua falha para escutar de forma eficaz, com habilidade e compreensão do outro”.
           Para construir relacionamentos bem sucedidos são necessárias algumas competências, porém, antes de mais nada, precisamos estar dispostos a enfrentar questões dos outros que nem sempre nos agradarão. No entanto, quando vamos entendendo os sinais, o que o outro quer mais não diz, fica mais amena a convivência. Quando vamos aprendendo a escutar o outro de forma integral e integrada. É importante escutar o todo, não somente ouvir palavras.
Escutar é ouvir com a alma. É muito mais do que ficar em silêncio quando alguém está falando. É entender os pensamentos, os sentimentos e as ações de outras pessoas. É perceber o não dito.
Esses versos estão no livro de James Borg, A arte da persuasão:


Seus pensamentos eram lentos
Suas palavras, poucas
E nunca chegavam a brilhar
Mas ele levava a alegria
Onde quer que estivesse
Você precisava ouvi-lo escutar.

           Segundo James Borg, quando escutamos atentamente detectamos todo tipo de informação sobre as idiossincrasias das pessoas com quem lidamos. Para isso, é necessário remover todas as distrações da mente para que nos concentremos em quem fala. Essas distrações podem acontecer em forma de pensamentos, julgamentos e emoções.
           A comunicação entre as pessoas move e sustenta os relacionamentos. A forma como escutamos e reagimos às outras pessoas é determinante para promover os nossos relacionamentos. Ao escutar de forma empática, transmitimos ao outro o sinal de que estamos interessados em tudo que ele está dizendo e que estamos abertos para entender o seu ponto de vista.
           Uma técnica de comunicação muito interessante e que pode ajudar na busca por uma comunicação mais efetiva é a desenvolvida por Marshall B. Rosenberg, chamada CNV – Comunicação Não-Violenta. Numa das passagens do seu livro Comunicação Não-Violenta ele fala sobre escutar sentimentos e necessidades e diz que mais do que as palavras que as pessoas usam para se expressar, procuramos escutar suas observações e o que elas estão pedindo para enriquecer suas vidas.
           No livro, ele conta que em um dos seus seminários ele tem um diálogo com uma mulher que queria aprender a ouvir os sentimentos e necessidades por trás de algumas afirmações do marido. Ele sugeriu que ela adivinhasse seus sentimentos e depois os confirmasse com ele.


Declaração do marido: De que adianta conversar com você? Você nunca escuta.
Mulher: Você está insatisfeito comigo?
Marshall Rosenberg: Quando você diz “comigo”, está implicando que os sentimentos dele são resultado do que você fez. Eu preferiria que você perguntasse: “Você está insatisfeito porque está precisando de...?”, e não “Você está insatisfeito comigo?” Isso concentraria sua atenção no que está acontecendo dentro dele e diminuiria a probabilidade de você tomar a mensagem como pessoal.
Mulher: Mas o que eu poderia dizer? “Você está insatisfeito porque você...?” Porque você o que?
Marshall Rosenberg: Pegue sua pista a partir da mensagem do conteúdo do marido: “De que adianta conversar com você? Você nunca escuta.” Do que é que ele está precisando e não está conseguindo quando diz isso?
Mulher: (procurando demonstrar empatia com as necessidades que estão sendo expressas através da mensagem do marido) Você está se sentindo infeliz porque acha que eu não o compreendo?
Marshall Rosenberg: Observe que você está se concentrando no que ele está sentindo e não no que está precisando. Acredito que você achará as pessoas menos ameaçadoras se escutar o que elas precisam e não o que elas estão pensando a seu respeito. Em vez de ouvir que ele está infeliz porque acha que você não o escuta, concentre-se no que ele está precisando, dizendo: “Você está infeliz porque sente necessidade de...”
Mulher: (tentado de novo) Você está infeliz porque sente necessidade de ser escutado?
Marshall Rosenberg: Era isso que eu estava pensando. Faz alguma diferença para você ouvi-lo dessa maneira?
Mulher: Definitivamente, sim – uma grande diferença. Vejo o que está acontecendo com ele sem ouvir que eu fiz qualquer coisa errada.

            O diálogo mostra como temos dificuldade em nos concentrarmos nos sentimentos e necessidades dos outros quando estamos acostumados a assumir a responsabilidade por seus sentimentos e a tomar as mensagens como pessoais.
            Será que não chegou a hora de você tentar se concentrar na necessidade do outro e exercer a empatia?  Quando escutamos com empatia fazemos com que o outro se sinta à vontade para se conectar conosco desprovido de defesas. Assim teremos mais sucesso na comunicação e, consequentemente, nos nossos relacionamentos.

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