sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Mudar é aceitar que queremos ser quem somos


O I Ching nos diz: “Somente quando tivermos coragem para encarar as coisas exatamente como elas são, sem decepção pessoal ou ilusão, uma luz se desvendará dos acontecimentos, através da qual o caminho para o sucesso será reconhecido”.


Diante de tanto avanço tecnológico, de conquistas gloriosas, de quebras de paradigmas por que o ser humano ainda insiste em padrões que caminham para uma direção contrária ao seu desejo, distante de si e da felicidade? A mudança é provocada pelo homem, mas não acontece no homem.  O receio da mudança chega a ser até algo místico, no sentido de ser supersticioso. Acreditamos que se mudarmos determinado comportamento uma catástrofe irá acontecer. Seria comparando, no sentido figurado, como as pessoas que sofrem do Transtorno Obsessivo Compulsivo – TOC, onde elas desenvolveram algumas manias que não sendo praticadas causam uma sensação de que algo ruim irá acontecer. Assim, lidamos frente às mudanças que sabemos que precisamos enfrentar para sairmos de um padrão de repetição, onde obtemos sempre os mesmos resultados e, permanecemos infelizes com isso.
No entanto, mudar comportamentos, hábitos não é uma tarefa fácil. Diria até que é uma grande missão, porém não é uma missão impossível. Primeiro ponto é que temos que querer fazer diferente, temos que ter esse desejo, esse objetivo muito forte e certo. Segundo é preciso ter coragem. Coragem para enfrentar opiniões contrárias, para cair (se necessário) e principalmente, para enfrentar sua sombra, suas fragilidades e verdades. E em terceiro lugar, muita, mais muita persistência, que deve vir acompanhada de muita disciplina e determinação.
O que acontece é que nos escondemos atrás de uma máscara, ou melhor, infinitas máscaras e construímos uma personalidade para ocultar quem realmente somos ou quem desejamos ser. Gastamos uma energia absurda diariamente para criar uma fachada, para que ninguém descubra nossos pensamentos sombrios, desejos, impulsos e histórico pessoal. Na maioria das vezes, estamos correndo na direção contrária a que somos, por medo de ferir o outro, por medo de não ser aceito, por medo que descubram nossas falhas mais profundas. Esta personalidade que construímos está incumbida de esconder todas as partes indesejadas e inaceitáveis de nós mesmos, inclusive aquelas que não aceitamos.
Segundo Debbie Ford, se fomos magoados por pais emocionalmente imprevisíveis, talvez tenhamos que trabalhar muito para transmitir a imagem de uma pessoa calma e equilibrada, se tivemos dificuldade de aprendizagem enquanto crescíamos, talvez criemos uma personalidade terna, excessivamente amorosa, para que os outros não percebam a deficiência que acreditamos ter. Se nos envergonhamos de ser filho adotivo, talvez nos tornemos trabalhadores altamente motivados, que sempre se vestem impecavelmente e são bem articulados. A imagem que criamos é elaborada pelas partes feridas, confusas ou repletas de dor. Embora isso possa enganar os outros, e até nós mesmos, por um tempo, acabaremos sendo confrontados pelos ferimentos que essa máscara destinava esconder. Por isso, a mudança é uma grande missão, onde é imprescindível um mergulho profundo em questões que nem sempre estamos preparados para enfrentar. Caso contrário, a mudança não será permanente.
É contraditório nosso processo de querer evoluir, pois caminhamos na direção oposta. Trabalhamos duro não para sermos quem queremos ser, mas para compensar as partes que julgamos inaceitáveis, torcendo para ludibriar os outros e nos livrar dos sentimentos ruins que foram associados a eles. Se nos sentimos permeados pela insegurança, podemos ter desenvolvido uma personalidade arrogante, que tudo sabe, para convencer os outros de que temos uma imensa confiança. Se nos sentimos impotentes, talvez tenhamos escolhido uma carreira ou um parceiro que nos permita parecer mais poderosos. E o pior é que nos enganamos achando de que não há nada que não conhecemos a nosso respeito, de que somos, de fato, a pessoa que vemos no espelho. Será? Tornamo-nos cegos às imensas possibilidades de nossa vida.
Para Debbie Ford, somente quando paramos de fingir ser o que não somos – quando já não sentimos mais a necessidade de nos esconder ou compensar por nossa fraqueza ou nossos talentos – conheceremos a liberdade de expressar o autêntico “eu”, tendo habilidade para escolher com base na vida que verdadeiramente desejamos viver. Sem perceber, nos posicionamos para provar que somos mais, melhores ou diferentes que o restante, ou tentamos ficar invisíveis para nos adequar sem chamar atenção. Esforçamo-nos para criar justamente a persona que acreditamos que nos trará a aprovação e o reconhecimento que desesperadamente precisamos ou, de modo alternativo, que nos dê uma desculpa para não viver na íntegra uma vida que amamos. Para não viver dentro dessas máscaras é preciso ter coragem para se enfrentar de verdade. É preciso querer fazer diferente. É preciso aceitar que mudar é fundamental para que não percamos de vista quem realmente somos e que possamos estar abertos às possibilidades para a nossa vida. Precisamos abraçar a nossa sombra para que possamos conhecer a liberdade de viver uma vida transparente, mas próxima do que somos, para nos sentirmos livres o suficiente e convidarmos os outros a entrar em nossa vida, sem que sejamos tomados pelo medo de termos uma recaída e voltarmos a expor a pessoa que vínhamos tentando não ser. Somente na presença do compromisso inabalável de enfrentar nossos demônios é que a porta para a descoberta pessoal se abre. Afinal, todos temos dentro de nós um lugarzinho onde secretamente desejamos ser mais, experimentar mais. Mudar é ter a coragem para aceitar que queremos ser quem somos.

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