sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Eu, você e o amor. Uma relação a três.

Dê a quem você ama: asas para voar, raízes para voltar e motivos para ficar. (Dalai Lama)

Somos seres desejantes, já nos disse Freud. Um dos nossos desejos é o de encontrar aquela pessoa que vai fazer nosso estômago borbulhar, nossa mão suar, as palavras sumirem e nada mais ao redor existir.
Quando isso acontece e na medida em que vamos conhecendo o outro, desejamos que seja para sempre de tão especial, mágico e único. São muitas sensações despertadas por esse encontro.
Porém, existe um grande desafio nas relações a dois – a de não se perder, mais do que a possibilidade de perder o outro. Como manter sua individualidade e sua identidade?
É como se a relação fosse uma terceira pessoa fruto de duas outras que possuem suas características, qualidades, defeitos, sonhos e expectativas e que serão, igualmente, responsáveis pelo desenvolvimento e construção dessa terceira.
A outra questão é: como manter vivo esse sentimento despertado naquele primeiro encontro de olhares?
Seguindo a ideia de que o relacionamento é uma terceira pessoa, uma analogia para entendermos que é preciso ter certos cuidados e atenção é pensar nas fases de desenvolvimento de um indivíduo/pessoa.
Quando bebê, ele precisa de todo cuidado. É totalmente dependente dos pais. Precisa ser alimentado, principalmente de muito afeto. A libido (energia) dos pais está focada e concentrada nele. Assim, acontece no início das relações. Estamos com a nossa libido totalmente voltada para o outro. Com o passar do tempo essa criança precisa entender que os pais têm outras ocupações, interesses e preocupações. Os pais não vivem em função e para ela. Existem momentos de lazer, trabalho, amigos. Isso não quer dizer que os pais não amem essa criança, mas é necessário que ela entenda os limites da individualidade. Abrir mão da sua vida não significa amar.
Com o entendimento das outras necessidades dos pais a criança vai amadurecendo e descobrindo novas formas de demonstrações de afeto. Além do quê, vai ficando mais segura e confiante, afinal amar não significa estar presente fisicamente em cada passo do outro, toda hora, todo instante, mas se fazer presente mesmo ausente. É querer estar junto, não por insegurança, possessividade ou até mesmo medo de perder, mas por querer genuinamente e por prazer em estar junto.
E, assim como no desenvolvimento do indivíduo, o relacionamento também passa por algumas crises, ou seja, passa pela adolescência que é uma fase onde estamos sujeitos a revoltas, rebeldias, confrontos e atitudes impulsivas. Passa pela crise dos 30, 40 e assim por diante. São momentos onde é necessário muito cuidado. E se nas fases anteriores o respeito, a compreensão, o carinho foi sedimentado, essa fase por mais turbulenta que seja vai passar com os dois de mãos dadas, lado a lado.
A maturidade chega, escolhas são feitas, novas descobertas revelam sensações que você nunca imaginou sentir com a mesma pessoa. O tempo passa e quando você olhar para essa terceira pessoa – o relacionamento – saberá que ali tem um pouco de você e do outro, foi construído por vocês. Ele é o reflexo de cada um.
Cuide do seu relacionamento como se fosse um filho. Alimente, escute, brinque, discorde, transe, ame. Não é sufocando, nem impondo e prendendo que você terá a garantia de ter a pessoa com você. Relacionamentos são construídos e solidificados com base em valores, não em regras impostas.
Se o seu relacionamento está fundamentado em valores como respeito, cuidado com o próximo, amor e admiração, ele vai refletir e se comportar como deve ser – leve, livre e entregue a você.

Amar é deixar ser. (Clarice Lispector)

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