sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Filosofia e poesia

            A filosofia surgiu, por um lado, em função dos caminhos já antes percorrido pelos poetas, por outro ela nasce propondo um modelo de compreensão do real alternativo ao mito/poético. Enquanto a mito/poética tem seu pensamento fundamentado na arte da invenção, a filosofia encontrará na interpretação seu modo de pensar.
            A primeira diferença a partir da qual todas as demais se estabelecem, seria acerca da ideia de princípio (arché). O fator maior que aproxima a filosofia da mito/poética consiste na decisão pelo objeto – o cosmo e depois, por extensão, a phýsis. As duas são modelos de conhecimento da realidade, possuem o mesmo objeto, mas a explicam de forma diferente. Os primeiros filosófos removem a ideia de princípio do âmbito do divino, deslocando-a para a própria realidade dada. A natureza não precisa mais ser explicada pelo que a ultrapassa em poder e sensibilidade, ela agora pode ser explicada a partir de si mesma, e se torna, assim, suficiente para o conhecimento, libertando-o do jugo dos deuses.
            Não se pode negar o parentesco inicial da filosofia com a poesia. Surgida num ambiente banhado pelos poemas homéricos e onde as demais obras de tantos outros poetas formavam, praticamente, todo o conhecimento da sociedade grega antiga, a filosofia não poderia ser indiferente, mesmo que seja para marcar uma oposição a ele – como a sua forma de ver a realidade. Segundo Havelock, os poetas e as poesias eram tidos como “as principais autoridades citadas como responsáveis por um certo tipo de moralidade questionável como aponta o desafio de Socrátes”.
            No texto A Crítica de Platão ao discurso poético no livro X da República, Adriana Natrielli cita alguns pontos de vista de diferentes autores a interpretação do livro X. Cross e Woozley divergem um pouco de Havelock, “em relação ao fato de que a questão política seria apenas um pretexto para a real intenção de Platão em criticar toda a tradição educativa grega veiculada através da poesia. Pois, segundo os autores, se a crítica da poesia só faz sentido em termos de educação, há também que se considerar a função social da arte dentro da esfera coletiva da cidade ideal que está sendo proposta na República”.
A filosofia, no entanto, tem como papel a investigação, o questionamento, a interpretação. No texto Discurso, conceitos e a formação da lógica, fica claro a diferença do método mítico poético para o metódo filosófico quando vemos que o objeto principal de investigação de Sócrates é a conceituação das palavras. Sócrates afirma que “se não soubermos os significados das palavras não conseguiremos entendê-las, não conseguiremos formular uma opinião sobre, pois para criarmos um conceito temos que ter uma prévia ideia do que é o objeto que queremos criar um conceito. Seríamos remetidos imediatamente a um mundo real, as próprias coisas, ou às próprias ideias, por uma linguagem que se faz transparente”.

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