segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Epistemologia - Racionalismo x Empirismo

No século, XVII e XVIII, surge o racionalismo inspirado em Descartes onde estes autores defendiam que o ser humano possuía idéias inatas e que o conhecimento se processa a partir da razão. Por outro lado, na Inglaterra, há um grupo de filósofos denominados de empirstas, que afirmavam ser a experiência e os sentidos internos a fonte do nosso conhecimento, aqui representado por David Hume.
Para Descartes, o conhecimento é uma certeza indubitável. Para atingir o conhecimento, Descartes desenvolveu o seu próprio método baseado sobretudo na dúvida. Essa dúvida em Descartes, é metódica, ou seja, é um caminho, e coloca-se sempre no início de um processo epistemológico de reflexão e nunca num fim. Ela não é uma dúvida ceticista, porque o objetivo da dúvida não é duvidar, como os céticos fazem, da possibilidade de o conhecimento humano atingir a verdade. A dúvida é, pelo contrário, um método racional de investigação.Esta dúvida possui três características: deve ser universal onde tudo deveria se submeter ao duvidar; radical, ou seja, o menor motivo que houver para se duvidar já é um bom motivo para te-la como falsa; e provisória pois Descartes pretende chegar, por meio dela, a algo sólido. é voluntária, sistemática e provisória. O objetivo da dúvida cartesiana é colocar o conhecimento sobre um fundamento seguro. Para esse fim, devemos suspender o juízo sobre qualquer proposição cuja verdade possa ser questionada, ainda que remotamente. Os critérios para o que pode ser aceito tornam-se cada vez mais restritivos, à medida em que somos convidados a duvidar do que nos é dado pela memória, pelos sentidos e até pela razão, porque isso tudo pode nos enganar. Para ele devemos duvidar dos sentidos, uma vez que eles freqüentemente nos enganam, pois, diz Descartes, nunca tenho certeza de estar sonhando ou de estar desperto. Devemos duvidar também das próprias evidências científicas e das verdades matemáticas, pois se um gênio maligno me enganasse, se Deus fosse mau e me iludisse quanto às minhas evidências matemáticas e físicas, tanto quanto existe a dúvida do Ser, sempre posso duvidar do objeto. Existe, porém, uma coisa de que não se pode duvidar, mesmo que o demônio queira nos enganar, que tudo o que pensamos seja falso, resta a certeza de que pensamos. Nenhum objeto de pensamento resiste à dúvida, mas o próprio ato de duvidar é indubitável. "Penso, logo existo” (Cogito, ergo sum) é a primeira certeza a qual chego com a radicalização da dúvida. O cogito é a primeira coisa que existe, pois para Descartes pensar é semelhante a existir.
A partir dessa certeza fundamental, Descartes procura as próximas certezas. A primeira pergunta a partir do Cogito deve ser: “se eu sou, o que sou?”. Descartes, então, utiliza um método negativo para chegar a uma certeza positiva: se posso imaginar que, mesmo eu sendo algo, meu corpo e o mundo não existem, então eu não sou meu corpo nem sou semelhante ao mundo. Minha natureza, portanto, é o pensamento. Ou seja: eu sou uma alma, e a alma é a substância pensante, em oposição à substância extensa do mundo e dos corpos.
A certeza de que eu sou uma substância pensante é clara e distina: não posso duvidar dela, e ela me aparece com distinção, como uma intuição. Intuição, para Descartes, é justamente a visão racional da evidência.
Investigando então as ideias, partindo dos dados disponíveis neste ponto, Descartes chega à conclusão de que elas são de três espécies: as ideias que têm origem fora do sujeito, fora de mim, e são resultado da apreensão do mundo pelos sentidos; as ideias que são originadas de minha imaginação; e a ideia de Deus, que não posso ter apreendido pelos sentidos, posto que não é semelhante às coisas externas, nem posso ter imaginado, visto que as qualidades de Deus (ser uma substância infinita, eterna, imutável, onipotente, onisciente e pela qual todas as coisas foram criados) são tão grandes que eu não poderia tê-las inventado.
A idéia de Deus, portanto, só pode ter sido imprimida em minha alma pelo próprio Deus. A essa prova da existência de Deus, Descartes adiciona seu argumento ontológico, que diz que, se Deus é um ser perfeito, e a perfeição exige, além das noções de eternidade, infinitude, onipotência, onisciência, também a noção de existência, então Deus não pode não existir. Se posso conceber um ser perfeito, então esse ser perfeito necessariamente existe e é a causa da ideia de ser perfeito que tenho inata – idéias inatas. Com a certeza da existência de Deus, o argumento do Gênio Maligno perde sua força, pois Deus não pode enganar – ou não seria Deus.
A partir daqui, é possível fazer ciência, pois se construiu uma fundamentação sólida para o conhecimento verdadeiro. As três primeiras Meditações insistem na ideia de que apenas a razão pode, por meio de um método construído pela própria razão, garantir o conhecimento verdadeiro, claro e distinto, das coisas. Resumindo, para Descartes a única garantia da ciência é a razão.
O empirismo, discordante de Descartes, mas partindo da ênfase no sujeito do conhecimento mostra uma outra teoria que visa a experiência como fonte do conhecimento, negando a existência de idéias inatas.
Hume nega a existência de princípios evidentes inatos em nós. Para ele, todo o conhecimento é como que uma cópia de algo, cujo objeto já tivemos acesso de alguma maneira.
Hume põe ainda o problema da causalidade. Ele refuta o princípio da causalidade segundo o qual todas as ações têm uma relação causa efeito, submetendo-o a uma análise crítica bastante rigorosa, baseando-se na sua teoria de conhecimento segundo a qual sem impressão sensível não há conhecimento, visto todas as ideias derivarem das sensações, à qual deve corresponder uma impressão.
Para Hume conhecimento divide-se em "impressões" (dados fornecidos pelos sentidos tanto internos, como a percepção de um estado de tristeza, quanto externos, como a visão de uma paisagem) e "ideias" (representações da memória das impressões).
As impressões são o que tenho de mais vívido em minha mente. São as impressões dos sentidos no momento em que ocorrem, isto é, aquilo que vejo, aquilo que ouço, e tudo aquilo que os sentidos produzem em mim é o que é mais forte em minha mente. São os prazeres e as dores. As idéias são reproduções, são cópias das impressões. Se penso no sabor da maçã, essa idéia não é tão forte quanto saborear a maçã e ter a "impressão" viva do seu sabor. Não encontro impressões complexas, mas idéias, sim, existem simples e complexas. Minha idéia de uma maçã é uma idéia complexa cujas idéias simples são o vermelho, sua textura crespa, sabor doce, etc. Hume ressalta que cegos e surdos de nascença não possuem esses caracteres, ou seja, não têm idéias correspondentes às cores ou aos sons, e para ele um ser completamente desprovido dos sentidos jamais seria capaz de qualquer conhecimento.
As ideias podem associar-se por semelhança (entre as impressões que representam), contigüidade espacial e temporal, e causalidade. De acordo com Hume, quando examinamos nossa ideia de uma coisa individual, tudo que encontramos são as idéias simples que se juntam para formar uma ideia complexa.
Para ele tudo que a mente contem são, em primeiro lugar, ou "impressões", dados finais da sensação ou da consciência interna, ou idéias, derivadas dos dados por composição, transposição, aumento ou diminuição, ou seja, o homem não cria qualquer ideia. Disto Hume infere uma teoria do significado: uma palavra que não corresponde diretamente a uma impressão só tem significado se ela traz à mente um objeto que pode ser apreendido de uma impressão por um dos processos mentais mencionados (processos associativos).
A partir daí, ele negou que possamos fazer qualquer ideia de causalidade pois ela é apenas resultado do nosso hábito mental, visto que na Natureza nada nos mostra que sempre que acontece alguma coisa, tem que acontecer outra. Só temos essa ideia porque nos habituamos a ver a sucessão de fenômenos um por um, o que nos induziu em erro.
Esta questão é de grande importância para David Hume, porque o racionalismo de Descartes apoia-se sobretudo nas relações causa efeito. Provando que não existem relações na Natureza e apenas fenômenos desligados uns dos outros, Hume rejeita, o inatismo cartesiano, introduzindo um dado novo nas teses empiristas afirmando que a identidade entre a ordem das coisas e das ideias é fruto dos nossos hábitos mentais ou na crença que existe uma ligação necessária entre os fenômenos.

Referências Bibliográficas:


Cobra, Rubem Q. - David Hume. Disponível em http://www.cobra.pages.nom.br , Acesso em: 23 maio 2009

DESCARTES, René. Meditações. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. Coleção os Pensadores. 2 ed, São Paulo. 1979. p. 72 a 142.

________________. Discurso do método. Tradução de J. Guinsburg e Bento Prado Júnior. Coleção os Pensadores. 2 ed, São Paulo. 1979. p. 25 a 71.

HUME, David. Investigação sobre o entendimento humano. Tradução de Antônio Sérgio, Leonel Vallandro, João Paulo Gomes Monteiro, Armando Mora D’Oliveira. Coleção os Pensadores. 2 ed, São Paulo. 1980.

PIRES, Frederico Pieper. David Hume e o entendimento humano. Ed. do Autor, São Paulo. 2009. p. 41 a 46

_____________________. Descartes e o início da modernidade. Ed. do Autor, São Paulo. 2009. p. 35 a 40

Nenhum comentário:

Postar um comentário