segunda-feira, 14 de novembro de 2011

O outro como limite ao que queremos Ser


No seu livro O ser e o Nada, Sartre dedica um capítulo a “existência do outro”. Ele diz que nossas escolhas refletem no todo, ou seja, no momento que faço uma escolha estou fazendo por todos os outros, e mais o outro valida minha existência, como por exemplo o fato de sentirmos vergonha, essa vergonha é concretizada pela existência do outro. É a vergonha diante de alguém. Como diz Sartre é a vergonha de si diante do outro. A vergonha é por natureza, reconhecimento, ou seja, reconheço que sou como o outro me vê. Porém, este ser que aparece para o outro não reside no outro: eu sou responsável por ele, sendo assim, a vergonha é vergonha de si diante do outro; essas duas estruturas são inseparáveis. Mas, ao mesmo tempo necessito do outro para captar plenamente todas as estruturas do meu ser.(Sartre, p 290, 2008).
Segundo Franklin Leopoldo e Silva, ao olhar o outro, fixo seu processo de existir no momento do olhar, e o identifico graças a essa cristalização da sua existência. O outro não é para mim um processo de constituição subjetiva, mas um objeto dado e uma identidade objetivamente constituída por mim. E isso é tão forte que o próprio sujeito que se sujeita ao meu olhar pode assimilar como sua essa imagem fixa e essencialista que dele faço. A má-fé, espécie de reificação de si mesmo,consiste precisamente em projetar uma imagem identitária de si, algo fixo que tenho de ser, apesar de minha liberdade. É importante ressaltar novamente que o homem faz parte de um contexto, que ele está sempre situado numa época, e esta situação tal como Satre entende possui dois componentes que são a facticidade e a alteridade. Sendo a facticidade o conjunto de fatos em que o homem existe e exerce sua liberdade, estes fato podem ser sociais, históricos, o lugar onde ele nasceu, políticos, etc. Ele nasce é tudo está pronto e diante disso ele tem a liberdade de escolher o que quer e que significado vai dar para cada um desses fatos, desse contexto. Não podemos mudar a facticidade, mas podemos ressignificá-la conforme nosso projeto de ser. Sendo assim, constatamos que há muitas coisas que nos determinam a partir do que vem de fora, mas somos nos os responsáveis pelo significado que eles teram na nossa existência.
Outro componente são os outros. Estamos situados entre outros, outros sujeitos e outras liberdades. Sartre diz que “o inferno são os outros”, pois ao existir este outro, o homem que tem a liberdade de escolher o que ele quer, vê no outro o limite para sua liberdade. Ele nos impede de fazer o que queremos. Somos tão responsáveis pelos outros como somos por nós mesmos. Sartre destaca a importância do outro quando diz que ele é indispensável para nossa existência tanto quanto ao conhecimento que tenho de mim mesmo. A minha descoberta desvenda-me também a existência do outro como uma liberdade colocada na minha frente, que só pensa e só quer ou a favor ou contra mim. Assim sendo, descobrimos um mundo que chamaremos de intersubjetividade onde o homem decide o que ele é e o que são os outros.
 Assim posto, facticidade e alteridade, segundo Franklin Leopoldo e Silva, terão profundas ressonâncias na consideração do caráter histórico da existência. o sujeito é o que ele faz, o que faz de si e o que faz com o que fazem dele. Isso significa ação histórica (social e política) sempre situada, sempre sujeita a determinações de várias ordens, mas também sempre livre. Sem dúvida é um paradoxo, porém Sartre se dedica a estabelecer os parâmetros de uma racionalidade efetivamente dialética, capaz de compreender, em todo o alcance de suas relações complexas, o processo do sujeito em situação, aquele que se constituí e é constituído e que constrói sua existência no contexto contraditório da liberdade e da determinação. Podemos dizer que a filosofia da existência é também uma filosofia da história, do contexto em que vivemos.
 Isaque José Bueno na sua dissertação sobre Liberdade e Ética em Jean Paul Sartre, fala sobre a questão situacional e o determinismo:


São os homens de nosso tempo que dizem quem somos, eles nos olham e nos julgam, nos classificam e, diante disso, nada podemos fazer, pois ao revelar a novidade que somos, esta se apresenta com um lado de fora, que é vista pelos outros. Estes julgam o que estão vendo e desta forma nos fazem existir de uma maneira que não escolhemos e que de certa forma também ignoramos. Portanto, é a partir do julgamento dos outros que descobrimos que existimos de maneira determinada, já que não somos apenas humanos, mas sendo humanos, também somos alemães ou portugueses, bonitos ou feios e são estas significações dadas pelos outros que fazem com que a nossa escolha e a nossa liberdade se perceba alienada e limitada.


 Não podemos colocar o outro como limite da nossa liberdade, pois mesmo sendo essa liberdade limitada pelo outro, temos a possibilidade de escolha, somos nós que decidimos de acordo com o que iremos agir.

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