quarta-feira, 30 de novembro de 2011

“O acaso só favorece a mente preparada” — Louis Pasteur

Para entender um pouco mais a questão do acaso escolhi duas palavras que explicam o que, talvez, não tenha explicação. Essas palavras são Serendipity e Sincronicidade.
A palavra Serendipismo se origina da palavra inglesa Serendipity, criada pelo escritor britânico Horace Walpole em 1754, a partir do conto persa infantil Os três príncipes de Serendip. Esta história de Walpole conta as aventuras de três príncipes do Ceilão, atual Sri Lanka, que viviam fazendo descobertas inesperadas, cujos resultados eles não estavam procurando realmente. Graças à capacidade deles de observação e sagacidade, descobriam “acidentalmente” a solução para dilemas impensados. Esta característica tornava-os especiais e importantes, não apenas por terem um dom especial, mas por terem a mente aberta para as múltiplas possibilidades.
Conta-se também que Newton foi levado a descobrir a Lei da Gravitação Universal por uma queda fortuita de uma maçã, que se teria registrado mesmo à sua frente, numa tarde em que tomava chá no jardim. Pensando no motivo que levaria a maçã e ser atraída para a Terra, o físico inglês pensou que essa força de atração poderia ser a mesma que mantinha os planetas em órbitas estáveis.  Alexander Fleming foi levado a descobrir a penicilina ao verificar que algumas culturas de bactérias que estudava morriam quando um certo tipo de bolor se desenvolvia nessas culturas. Estudando os constituintes desse bolor, veio a isolar o primeiro antibiótico. Foi assim que o médico escocês fez uma das descobertas mais importantes dos tempos modernos.
Em todos estes casos, tais como em centenas ou milhares de outros, houve cientistas que foram levados a descobertas fundamentais por acontecimentos fortuitos que souberam aproveitar habilmente. O acaso teria desempenhado um papel fundamental em todos estes acontecimentos felizes, mas é evidente que foi preciso o gênio e a perspicácia dos investigadores para que esses acasos se tivessem transformado em descobertas.
Sincronicidade é um conceito desenvolvido por Carl Gustav Jung para definir acontecimentos que se encontram não por relação causal e sim por relação de significado. Certo dia Carl Gustav Jung ouvia uma paciente em seu consultório na Suíça. Tratava-se de uma mulher hiper-racional que resistia às técnicas de Jung para melhorar seus relacionamentos. Enquanto a paciente descrevia um sonho em que ela recebia um escaravelho dourado, Jung ouviu um som vindo da janela. Ao aproximar-se, ele viu um besouro Cetonia aurata – o mais próximo de um escaravelho dourado naquela região – tentando entrar no consultório. Jung abriu a janela, pegou o besouro na mão e o mostrou à paciente, dizendo: “Aqui está seu escaravelho”. Sabendo que aquele besouro era um símbolo de renascimento no antigo Egito, a paciente ficou tão emocionada com a coincidência que se pôs a chorar ali mesmo. Sua carapaça racional havia se quebrado, e ela logo receberia alta. Jung, por sua vez, criaria a tese da Sincronicidade a partir desse incidente.
Acredita-se que a sincronicidade é reveladora e necessita de uma compreensão. Essa compreensão poderia surgir espontaneamente, sem nenhum raciocínio lógico, que Jung denominou de “insight”.
Desta forma, é necessário que consideremos os eventos sincronísticos não os relacionando com o princípio da causalidade, mas por terem um significado igual ou semelhante. A sincronicidade é também referida por Jung de “coincidência significativa” de dois ou mais fatos. Foi um princípio que Jung sentiu abrangido por seus conceitos de Arquétipo e Inconsciente coletivo.
A sincronicidade pode ser uma crença do que no fundo nós gostaríamos que acontecesse? O materialista sem dúvida dirá que não passam de disposições fortuitas de acontecimentos, de “caprichos do destino”. O crédulo aceitará como “vontade de Deus”. O cientista irá vê-los no contexto das leis de causa e efeito. O filósofo, de acordo com a sua visão de mundo.
A física nos diz que existe a lei da atração, ou seja, nossos pensamentos, nossa vibração e querer atraem o que desejamos – magnetismo. No fundo atraímos o que queremos. E enxergamos o mundo e o que acontece conosco da forma como queremos e muitas, e não raras as vezes, de uma forma limitada. Por isso, que o acaso só favorece a mente preparada e ampla.
A sincronicidade também acontece conforme a nossa forma de ver o mundo, de pensar, de desejar. É uma escolha nossa acreditar ou não no acaso. Agora, se você observar o mundo ao seu redor verá que as pessoas que você atraiu durante a sua vida, ou mesmo nesse momento, geralmente, são pessoas com situações, problemas, contextos e formas de ver o mundo muito semelhante ao seu, ou se são pessoas que, aparentemente, não fazem sentido você acaba percebendo (se estiver preparado para isso) que ela foi a resposta das suas questões.
Será que podemos interpretar a sincronicidade como validação de que estamos no caminho certo? Talvez. Porém, mais do que isso ela nos mostra que estamos conectados não apenas nas redes sociais. Nossas almas estão conectadas pelas vibrações que emanamos por meio dos nossos pensamentos e atitudes.
Mais do que nos trazer respostas, a sincronicidade nos faz entender que fazemos parte de um todo. Que uma mudança na nossa forma de pensar não muda apenas o nosso mundo, mas o universo ao nosso redor. Somos mais do que nossos olhos podem ver e podemos ter um alcance maior do que nossa vão filosofia, um dia, quem sabe, poderá supor.

Indico o filme Serendipity que é uma comédia romântica que explica um pouco da questão do acaso.



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